Idealista no Mundo Real
José Rodrigues
Miguéis
Prefácio de Maria Angelina Duarte
Capa: José Luís
Tinoco
Editorial
Estampa, Lisboa Dezembro de 1986
Sabe que eu tenho fama de jacobino e mata-frades:
fui-o, quando era oportuno. E no entanto, sou dos poucos, que, nesta terra, têm
a coragem de reconhecer que só os jesuítas nos podem dar lições. Há muito que
aprender com eles. É preciso ser jesuíta, mas do avesso. Os jesuítas quiseram
transformar o cristianismo, que era a arma dos fracos, em instrumento dos
fortes. E o mesmo será preciso fazer com o socialismo. Compreende? Aliás, é o
que se está dando no mundo. É bom não nos rirmos antes de tempo. Como força
instintiva, colectiva, o socialismo é uma grande arma, um reservatório
inesgotável de potencial. Em democracia, o povo é por definição a grande
matéria-prima da opinião, do poder: mas quem é o povo? E que sabe ele,
colectivamente, de economia, de governo, de leis da história? O povo é a mais
volúvel das mulheres… Depois do pão e do circo, a primeira necessidade do povo
é um chefe. O que é preciso é dar-lhe a ilusão embaladora de que é ele quem
manda! E governá-lo. O mundo vive de ilusões, de ficções…
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