segunda-feira, 16 de março de 2015

OLHAR AS CAPAS


As Canções de António Botto

António Botto
Livraria Bertrand, Lisboa, 1956

Sentado à minha varanda,
Contemplo a noite que desce
E a rosa
Que puseste no meu peito.

E, largo tempo,
Ficando silencioso,
Oiço uma voz que me fala...

-- Que voz é esta,
Tão incisiva, tão pura,
Que me pede que acredite
E tenha fé no destino?

Inclino a fronte, -- medito
No altíssimo desejo 
Que anda comigo
E sobe a cada momento!

Nas ramas do arvoredo,
O vento,
Passando, diz qualquer coisa.

A sombra cai,
De repente, volumosa.

Mal distingo as minhas mãos.

E ao pé de mim
Tomba o corpo

Fino e frágil dessa rosa.

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