11 de Março de
1975
A História
baliza o começo do PREC Período Revolucionário em Curso com os acontecimentos
de 11 de Março de 1975.
O Regimento de
Artilharia 1, sediado na Encarnação, é atacado por aviões da Base Aérea nº 3 e
cercado por tropas do Regimento de Pára-quedistas.
O quartel é
cercado e o Aeroporto da Portela é encerrado.
Com alguma ponta
de humor, o centrista Francisco Lucas Pires definiu o 11 de Março como o dia em
que uns aviões dispararam uns tiros sobre um quartel em Lisboa, e no dia
seguinte a banca estava nacionalizada.
Os primeiros
atacantes levantaram voo de Tancos às 10,45. Horas: oito helicópteros de
transporte, três helicanhões, e dois «Harvard» com um total de 160
pára-quedistas dirigem-se para o RAL-1.
Por trás da
tentativa de golpe de Estado está o General António Spínola, ex-presidente da
República, acompanhado por uma corte de militares que estiveram na Guiné
enquanto Spínola foi governador do território.
No dia 6 de
Março, a revista francesa «Témoignage Chrétien» publicara uma
notícia que revelava: «Spínola prepara um golpe de Estado em Portugal»,
afirmando que Spínola recebera luz verde do embaixador dos Estados Unidos,
Frank Carlucci, para tentar subverter o processo revolucionário iniciado em
Portugal.
O mal-amanhado
golpe tinha por objectivos:
- atacar o RAL-1,
neutralizando a unidade militar de primeira linha do MFA;
- a GNR
revoltar-se-ia pondo-se ao lado dos conspiradores;
No próprio dia
do golpe, Spínola via telefone, tenta convencer os comandos de diversas
unidades a porem-se do seu lado, entre os quais Jaime Neves e Salgueiro Maia.
Jaime Neves diz
que apenas recebe ordens do COPCON e Salgueiro Maia recusa-se a ir ao telefone
para o atender.
Incompetência?
Ingenuidade?
Uma reportagem
televisiva regista o caricato diálogo entre o capitão pára-quedista Sebastião
de Almeida e o major Dinis de Almeida, do RAL-1, com este a
perguntar se o capitão sabia o que estava a fazer.
- Tenho ordem dos meus superiores para ocupar a Unidade.
- Mas porquê? eu tenho ordens dos meus superiores para defender a Unidade
Martins tira um
papel do bolso e mostra-o a Dinis de Almeida que passa uma vista de olhos pelo papel.
- Então e vocês atacam uma Unidade por causa de um
papel?
- Não é por causa de um papel. Há altas individualidades descontentes com a forma como as coisas têm corrido. É em nome delas que desencadeámos estas acções, para garantir que as eleições de 12 de Abril se realizarão.
Entretanto,
populares vão-se juntando em redor dos dois militares e começam a gritar: o povo
não está com vocês!
Entretanto, a 5ª
Divisão do Estado Maior General das Forças Armadas começa a informar a
população:
Música:
Indicativo do MFA
Aqui estúdios da 5ª Divisão. Enquanto não se esclarece
definitivamente a situação operacional, pedimos ao Povo Português e em especial
à população de Lisboa que se mantenha calma e vigilante em união com o MFA e
seus órgãos representativos. Contamos fornecer, o mais rapidamente possível
elementos concretos e esclarecedores.
Cerca das 15,15
horas, Otelo Saraiva Carvalho, através da rádio disse aos jornalistas:
De como Almeida
Faria, Natália Correia, Vergílio Ferreira, viram os acontecimentos deste dia:
Almeida Faria
(Ver Olhar as Capas).
Natália Correia:
Começou por ser uma vassourada de sons que revolviam o
céu da cidade. Prelúdio aziago do turbilhão de notícias que choveram durante todo
o dia. Caças a hélice e helicópteros provindos de Tancos atacam o RAL1 na
Encarnação, unidade especialmente afecta à faixa esquerdista do MFA, e o
Quartel do Carmo é cenário de uma sublevação.
Mas já a meio da tarde a manobra
contra-revolucionária, como a designa a Rádio por entre os conhecidos apelos à
vigilância popular, é dominada pelo MFA. O comandante dos para-quedistas
atacantes é preso com outros oficiais implicados no risível golpe e Spínola
foge de helicóptero para Espanha, onde aterra numa base perto de Badajoz,
acompanhado de 18 oficiais que noutros helicópteros o seguem nesta fuga
espectacular.
Sim, uma sedição grotescamente consonante com este
conglomerado de velhos ridículos nacionais que vão dando à costa da revolução.
Isto no caso de se tratar efectivamente de um golpe estruturado com o intuito
criminosos de levar a população a uma luta fraticida.
Vergílio
Ferreira:
Cerca do meio-dia, houve um novo simulacro-revolução:
um avião com duas bombas nas asas lançou uma no Regimento de Artilharia Ligeira
nº 1. Ripostou-se. Seis helicópteros desembarcam para-quedistas. Um moço
disse-me ter falado com um deles. «tinham-nos dito que havia aqui
reaccionários». Comédia para quem? O 28 de Setembro ainda parecia. Mas isto? A
menos que seja um ensaio como o movimento das Caldas de há um ano. Mas agora ao
contrário (quase).
Fontes:
- Acervo pessoal;
- Os Dias Loucos do PREC de Adelino Gomes e José Pedro Castanheira;
- Não Percas
a Rosa, Natália Correia, Publicações Dom Quixote, Lisboa, Novembro de 1978;
- Conta-Corrente,
1º Volume, Vergílio Ferreira.
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