sexta-feira, 13 de março de 2015

OS IDOS DE MARÇO DE 1975


13 de Março de 1975

A INSTITUCIONALIZAÇÃO  imediata do MFA, através do Conselho Superior da Revolução e da Assembleia do MFA; a decisão de que o acto eleitoral decorra nos prazos previstos; a confirmação de que há civis ligados ao alto capital presos por estarem implicados na intentona do 11 de Março; e o reconhecimento da importância da aliançado Povo com as Forças Armadas, através da vigilância popular e da eficácia da actuação das Forças Armadas, foram os factos mais importantes referidos no decorrer de uma conferência de Imprensa dada ontem pelo ministro da Comunicação Social, comandante Correia Jesuíno que se encontrava acompanhado do capitão Duran Clemente da 5ª Divisão do EMGFA e do comandante Montês, director-geral de Informação.
O 11 de Março – adiantou o ministro - não foi um golpe militar representativo de divisões profundas no seio da Forças Armadas. Foi um golpe desencadeado por um grupo minoritário, altaamente reacionário, constituído por pessoas com um currículo já estabelecido. Inclusivamente, algumas dessas pessoas já tinham sido saneadas das Forças Armadas.
Referido, também, que se encontram detidos 25 militares, além da detenção de civis ligados ao grande capital, que subsidiaram partidos políticos e deram fugas a capitais da ordem de milhões de contos.
Quanto à participação nas eleições, dos partidos CDS e PDC, foi afirmado que a decisão caberá ao Conselho Superior da Revolução.



NUM COMUNICADO  do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Espanha, provocado por notícias de Lisboa, que tentariam envolver o governo espanhol nos acontecimentos em Portugal, é reafirmado que o governo espanhol reafirma a sua adesão total ao princípio de não-intervenção nos assuntos internos de outro estado e que observa «rigorosamente» nas suas relações com Portugal.

SPÍNOLA  terá declarado a vários oficiais espanhóis  que «tenciona não voltar nunca mais a Portugal» e que espera encontrar asilo fora de Espanha, provavelmente no Brasil.

NUM COMUNICADO da Comissão Política do Comité Central do Partido Comunista Português lê-se que não é de crer que a conspiração abrangesse apenas os responsáveis já conhecidos. Alguma coisa falhou no plano e isso significa que houve conjurados que, por qualquer razão, não entraram em acção.

O JORNAL DE NOTÍCIAS e A Capital referem a morte de um civil às portas do RAL 1, na tarde do ataque. O civil, acompanhado de uma mulher, foi abatido pelos soldados depois de terem sido disparados tiros do carro onde fugia, depois de provocações aos soldados e populares que se encontravam junto ao quartel.

OS TRABALHADORES da Rádio Renascença consideram «irreversivelmente» anulados os despedimentos ordenados, em Setembro passado, pelo conselho de gerência da estação.
Numa carta enviada ao Presidente da República, em nome da Conferência Episcopal, D. António Ribeiro, patriarca de Lisboa, reclama o «normal funcionamento da emissora católica em condições de Liberdade».


NO SEU EDITORIAL o jornal londrino The Guardian escreve: «A não ser que os próximos dias tragam novas informações sobre o estado das coisas em Portugal, a rebelião de ontem por parte de para-quedistas e unidades da Força Aérea continuará a parecer, como parece agora, um acto de desespero político desnecessário e auto-destruidor.»

NO SEU EDITORIAL, o jornal parisiense Fígaro, destaca: «Duas interpretações dos acontecimentos são possíveis: ou a direita portuguesa é a mais idiota do Mundo, ou os «duros» do regime se comportaram com surpreendente maquiavelismo para eliminarem definitivamente os seus adversários da cena política.»

CÉSAR OLIVEIRA no seu livro Os Dias Decisivos:

O 11 de Março foi, penso eu, a tentativa bem sucedida para levar o general Spínola e os seus apoiantes para uma sublevação militar mal preparada, mal dirigida e com poucos apoios, de modo a evitar que a mesma ocorresse numa fase mais adiantada e segura de preparação.

Fontes:
- Acervo pessoal;
Os Dias Loucos do PREC de Adelino Gomes e José Pedro Castanheira;
Os Dias Decisivos – César Oliveira

Legenda:
- cartaz da autoria de João Abel Manta

- Títulos de O Século de 13 de Março de 1975

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