12 de Março de
1975
Numa assembleia
que reuniu perto de 200 oficiais do M.F.A., incluindo membros da Junta de
Salvação Nacional e da Comissão Coordenadora, e que foi presidida pelo Chefe de
Estado General Costa Gomes, é decidido remodelar o governo, iniciar a institualização
imediata do M.F.A., na base de um Conselho da Revolução, e manter as eleições
para a data prevista. Previstas para 12 de Abril seriam posteriormente marcadas
para o dia 25 de Abril.
À saída da
reunião os jornalistas puderam ouvir breves declarações dos intervenientes.
O General
Fabião, Chefe do Estado-Maior do Exército (e membro da J.S.N) afirmou que os
acontecimentos da Encarnação o surpreenderam um tanto.
Andava «qualquer coisa no ar», realmente,
mas daí até se pensar num ataque com meios aéreos e terrestres ia um grande
passo.
Analisando os
acontecimentos o Diário de Lisboa escrevia:
Outros títulos:
- 100 mil
pessoas, ontem, na Avenida da Liberdade em Lisboa, numa manifestação
de apoio ao M.F.A. e ao Governo Provisório;
- Capitão Pinto
Soares, em Madrid: «Um acto isolado inconsciente e suicida. Irra-
diação dos partidos que possam estar
implicados.»
- A L.U.A.R.
denuncia: Coincidências com o golpe chileno;
- O P.R.P:-B.R.
ofereceu-se para colaborar com o COPCON;
- No centro do
Porto milhares de vozes gritaram: «Fascistas na Prisão»;
- Estragos e
destruições nas sedes do C.D.S., P.D.C. e P.P.D. no Porto;
- Destruídas as
sedes do P.D.C. e C. D.S. em Lisboa;
- Saqueada
dependência da C.I.P., Confederação da Indústria Portuguesa na
Av. 5 de Outubro em Lisboa;
- A Espanha e os
Estados Unidos desmentem implicações na intentona;
- Pergunta a
imprensa inglesa: «Até onde a N.A.T.O. e a C.I.A estiveram
Implicadas»;
- Normalizado o
tráfego aéreo;
- Postos da
fronteira terrestre ainda não reabriram;
- Sindicatos
exigem luta contra os monopólios;
- Aveiro foi
para a rua vitoriar os seus soldados;
- Freitas do
Amaral em Londres: «surpreendido e chocado»;
- Duas
sentinelas guardam o general Spínola na base de Talavera la Real. Com ele
encontram-se outros 18 oficiais;
- O Brasil não recebeu qualquer pedido para conceder asilo político a Spínola;
- Marcelo e
Tomás calados;
- Saqueada a
casa de Spínola ao Campo Santana em Lisboa;
- Sete
administradores do Banco Espírito Santo detidos pelo COPCON;
- COPCON publica
lista de oficiais detidos;
- Trabalhadores
da Rádio Renascença, em greve há 19 dias, convocada contra os
despedimentos registados na estação,
decidiram retomar a programação. A gre-
ve tem disso suspensa apenas nos períodos de
transmissão diária do terço e das
missas dominicais. Em comunicado os trabalhadores
perguntam se a Hierarquia
da Igreja
está ou não interessada numa Emissora Católica penetrada do espíri-
to do 25 de
Abril e declaradamente ao lado do povo português.
- Quatro feridos
do ataque ao RAL 1 ainda internados no Hospital Militar;
- Barricadas nas
estradas para Vigilância Popular.
Todos os
partidos emitem comunicados condenando a intentona.
O Partido da
Democracia Cristã, cuja sede em Lisboa foi destruída, e com o seu Secretário-Geral,
Major Sanches Osório ausente em parte incerta, fala em insólitas manobras de
força de elementos reaccionários que visam destruir a Jovem Democracia Portuguesa.
O PPD, em
comunicado considera urgente a punição dos responsáveis e diz que a tentativa
de golpe «veio revelar» a insuficiência do saneamento «que é sem
dúvida uma das actuações mais vivamente exigidas pelo povo». Contudo, os
populares na manifestação da Avenida da Liberdade em Lisboa. gritavam;
Onde está o PPD que não se vê!
Vergílio
Ferreira:
Afinal, parece ter havido mesmo um movimento em
grande. Mas continuo a pensar que ele se iniciaria mais tarde, por exemplo
hoje. A antecipação teria apanhado os implicados desprevenidos. Quem antecipou?
Porquê? E se foram os militares do governo que puseram a coisa em andamento
para despoletar a revolução? Há uma desproporção enorme enque o se houve e se
diz estar para haver. Como é que Spínola caía nesta arara infantil? Entretanto
os partidos, sobretudo o «suspeito» PPD, acertou o passo com injúrias aos
vencidos, protestos de vassalagem aos vencedores. Mas quem venceu, além do PC?
E todavia, tudo isto era inevitável. Bastava que se tivesse formado um conselho
revolucionário, logo no 25 de Abril, com um programa político prévio, bem
discriminado, e com as distâncias marcadas em relação aos partidos, mormente ao
comunista. Mas o comunismo é a grande fascinação dos militares mais evidentes.
Um Melo Antunes, nestes jogos cruzados, deve ter ficado sem cabeça.
Mário Castrim,
no Diário de Lisboa, intitulava a sua crítica de televisão: “Vitória
em Março – um cheirinho a Primavera” e finalizava:
Foi dito com a clareza máxima: chegou o momento de se
saber quem está e quem não está com o M.F.A. Quem está com ele a sério, isto é,
em defesa do povo português. É preciso saber quem invoca, sem ser em vão, o
nome do M.F.A. Na boca de muitos andadrá ele; nem todos se poderão gabar de o
trazer no coração.
Fontes:
- Acervo
pessoal;
- Os Dias Loucos
do PREC de Adelino Gomes e José Pedro Castanheira;
- Conta-Corrente, 1º
Volume, Vergílio Ferreira.
Legenda:
- 1ª página do Diário de Lisboa de 12 de Março de 1975
- Declarações de Vasco Gonçalves publicadas em A Capital de 12 de Março de 1975
- Título do Diário Popular de 12 de Março de 1975
- Notícia do Diário de Lisboa de 1975
- Notícia da República de 12 de Março de 1975
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