14 de Março de
1975
NESTE DIA, há 40
anos, o País surpreendia-se com a notícia de que o Conselho Superior da
Revolução, como sua primeira grande decisão, nacionalizava todas as
instituições de crédito bancário, com sede em Portugal e Ilhas Adjacentes, com
pequenas excepções, atendendo à existência de filiais e bancos estrangeiros e
caixas económicas e de crédito agrícola mútuo, que aguardarão lei especial.
General Vasco
Gonçalves:
Penso que hoje é um dia histórico para o nosso povo. O 14 de Março fica gravado na história do nosso povo, como uma data que corresponde a um passo muito importante dado na sua libertação, na via do progresso, na via do País dominar os seus próprios recursos. Portanto julgo que hoje é um dia de alegria para todos, menos para aqueles que beneficiavam largamente com o sistema anterior vigente.
O PPD, sublinha que substituir um
capitalismo liberal por um capitalismo de estado não resolve as contradições
com que se debate hoje a sociedade portuguesa.
Mário Soares
chama-lhe um dia histórico em que se pode assinalar que o
capitalismo se afundou.
O economista
Eugénio Rosa lembra:
É suficiente dizer, e só a título de exemplo, o que
aconteceu até há pouco tempo com um banco. O grupo económico a que ele
pertencia criou 15 empresas no mesmo edifício, com um capital social de 3.500
contos, a quem emprestou mais de 3 milhões de contos para que aquelas pudessem
jogar em acções especulativas, sem qualquer interesse para satisfação das
necessidades populares.
Jornalista
Miguel Serras Pereira:
Aquilo que se fará com a estatização da banca é, sem
dúvida, bem mais importante do que essa estatização em si mesma.
Economista Maia
Cadete:
Neste mesmo dia,
a profª Isabel de Magalhães Colaço, Diogo Freitas do Amaral, Henrique de
Barros, Rui Luís Gomes, Teixeira Ribeiro e Azeredo, civis do estado apresentam a sua renúncia.
Também se fica a
conhecer os militares que compõem o Conselho da Revolução:
Pinheiro de
Azevedo, Rosa Coutinho, Carlos Fabião, Mendes Dias, Lopes Pires, Pinho Freire,
Costa Gomes, Vasco Gonçalves, Otelo saraiva de Carvalho.
Membros da
Comissão Coordenadora:
Franco Charais,
Canto e Castro, Pereira Pinto, Almada Contreiras, Miguel Judas, Vasco Lourenço,
Pinto Soares, Ferreira de Sousa, Sousa e Castro, Pezarat Correia, Marques Júnior,
Martins Guerreiro, Ramiro Correia, Costa Neves, Graça Cunha.
Os Bancos
reabram amanhã.
QUEBRANDO um
silêncio voluntariamente mantido nos últimos meses, o Capitão Salgueiro Maia dá
uma entrevista ao jornalista Dinis de Abreu, publicada no Diário Popular.
Salgueiro Maia
conta que ao principio da tarde do dia 11, deslocou-se a Tancos para dizer a
Spínola que tudo aquilo era irracional e que o momento político não se
compadecia com aventureirismos como aqueles que estavam a ser desencadeados.
Quando o viu,
Spínola disse-lhe:
- Mas, então, você não está em Lisboa?
- Mas nós somos tudo menos malucos, e não compreendo
como é que o meu general se mete numa alhada destas…
Salgueiro Maia
fica com a ideia que o general está extraordinariamente mal informado, porque
garantia que toda a situação era dele, todas as forças lhe obedeciam e que
tinha sido levado àquilo por uma comunicação recebida nessa noite, através de
uma lista de elementos a abater por determinada organização política; à cabeça
da qual se encontrava com 500 militares e cerca de mil civis, numa operação
designada por «Matança da Páscoa».
Salgueiro Maia
desabafa a Dinis de Abreu:
Spínola está absolutamente irrecuperável. Na presente
situação política, ele era para os seus adeptos um D. Sebastião. Agora, já não
há D. Sebastião. É bom não esquecer que
ele foi um dos melhores generais e um dos piores como político.
Editorial de Augusto Abelaira na Vida Mundial:
Fontes:
- Acervo
pessoal;
- Os Dias
Loucos do PREC de Adelino Gomes e José Pedro Castanheira;
- Discursos
– Vasco Gonçalves, Edição do Autor, Lisboa, 1976
Legenda:
- pormenor da 1ª
página do Diário de Lisboa de 14 de Março de 1975;
- páginas
centrais do Diário Popular de 14 de Março de 1975.
Sem comentários:
Enviar um comentário