De todas as salas de
cinema nos Estados Unidos de que já vos falei, o Paramount Theatre, de Bristol,
é a mais recente, porque ainda só vai a caminho dos 90 anos de idade.
Fica no nº 518 da
State Street, a rua principal da cidade que é, simultaneamente, a fronteira
entre os estados de Virgínia e Tennessee. Curiosamente, ficava muito perto dos
Armazéns onde tiveram lugar as “Bristol Sessions”, de que ainda há bem pouco
tempo vos falei.
Faz parte de um
conjunto de “Paramount Theatres” que a “Paramount Corporation” fez construir
durante os anos 30 em diversas cidades dos Estados Unidos. O custo total da sua
construção foi 210.000 dólares.
Um pequeno parêntesis
para vos dizer que estas salas da “Paramount” têm o seu lugar garantido na
História do Cinema Americano, porque foi a sua existência que esteve na origem
da “Lei Anti-Trust” de 1948, que passou a impedir que a produção e a exibição
de filmes estivessem na mão do mesmo proprietário, que poderia garantir, dessa
forma, a exclusividade de exibição de determinados filmes em determinadas
salas. A partir dessa decisão judicial do Supremo dos Estados Unidos, a
“Paramount” teve de se subdividir em duas companhias, a “Paramount Pictures
Corporation” para a produção, e a “United Paramount Theatres”, para a exibição,
mas sem direito a qualquer tipo de exclusividade.
Voltando ao cinema de
Bristol, é um edifício em estilo “Art Deco”, de arquitetura inspirada em alguns
trabalhos de Frank Lloyd Wright.
Tinha lugares
sentados para 1.200 pessoas e foi inaugurado no dia 21 de Fevereiro de 1931,
com uma curta comédia com Carole Lombard e Norman Foster que se chama “It Pays
to Advertise”, realizada por Frank Tuttle e hoje completamente esquecida.
Diz-se que o seu
interior era muito bonito, todo ele em mistura de estilo “Art Deco” e
“Renascimento” e que a principal atração da sala de espetáculos era um enorme
órgão “Mighty Wurlitzer”, que viria a ser fortemente danificado em 1954 por
ocasião de obras de remodelação para a instalação do “Cinemascope”.
Durante o longo
período em que esteve em funcionamento não exibiu apenas filmes, mas também,
como era habitual nestes cinemas “de província”, peças teatrais e espetáculos
musicais de diversos géneros, nomeadamente com as “big bands” de Tommy e Jimmy
Dorsey e Harry James, e com cantores “Country” provenientes do Grand Ole Opry,
de Nashville, tais como Tex Ritter, Ken Maynard, Ernest Tubb e Cowboy Copas.
Tal como quase todos
os outros grandes cinemas na América, entrou em declínio nos anos 70 e o último
filme que teve em exibição foi “Beyond the Poseidon Adventure”, um filme ação
de Irwin Allen, em 1979.
Esteve encerrado
durante quase 10 anos e depois foram obtidos fundos, nomeadamente junto da
população, para a sua remodelação, a qual custou 2 milhões de dólares.
Reabriu em Abril de
1991, com um espetáculo de Tennessee Earnie Ford, um filho da terra, e tem-se mantido
em atividade até agora sob a gestão de uma entidade não lucrativa, a “Paramount
Fondation”. A sua lotação foi reduzida para 750 lugares, mas todo o restante
esplendor do interior se manteve, incluindo um novo órgão “Mighty Wurlitzer”,
do qual só existem cerca de 40 exemplares em todos os Estados Unidos.
Desde 1985 integra o
“National Register of Historical Places.
Devido à pandemia,
encerrou as suas portas no dia 15 de Março do corrente ano.
Mas como existe uma
superstição nas gentes do teatro que diz que se todas as luzes de um teatro
forem apagadas o mesmo será invadido por fantasmas, foi deixada acessa uma
pequena luz no meio do palco, a que chamam “Ghost Light”.
Lá como cá o dinheiro
para a Cultura não abunda, e foi lançada uma campanha junto da população para
angariação de fundos que permitam suportar os encargos durante esta situação de
crise
Entretanto, os
espetáculo que foram cancelados estão a ser reprogramados já a partir do próximo
mês de Setembro.
Espero, sinceramente,
que os possam concretizar...
A seguir,
apresento-vos um curto filme para que tenham uma ideia, principalmente na época
do mudo, da importância do “Mighty Wurlitzer Organ” nas salas de cinema.
Texto e fotografias
de Luís Miguel Mira
3 comentários:
Tudo o que acabei de ler (e ver) é magnífico!
Felizmente que ainda há pessoas que continuam a fazer coisas bonitas apenas pelo prazer do belo.
Enquanto a sensibilidade não fôr riscada do humano ele sobreviverá.
Os amigos, a família, sabem que, se eu mandasse, três meses eram riscados do calendário: Janeiro, Fevereiro e, principalmente Agosto.
Agosto sempre foi, para mim, um mês miserável e se a isso lhe juntarmos a pandemia chinesa, o Seve calculará como têm sido estes meus dias agostinianos. Sorte das sortes, o Luís Miguel Mira, com as suas brilhantes novas Crónicas da América, tem salvado a honra do Cais.
Se o Luís Mira, no almoço de quinta-feira que vamos ter, me voltar a dizer que isto não merece outro livro, temos grossa borrasca!
Mas só vim aqui para lhe dizer que o maldito Agosto não terminará sem eu rebuscar, e aqui publicar, uma crónica que o Luís Mira publicou no l º volume das «Crónicas da América» (2010), «Mother Road», sobre as «Vinhas da Ira», livro de John Steinbeck, filme de John Ford.
Ó Sammy Ó Sammy "AS VINHAS DA IRA" é um dos livros da minha vida.
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