terça-feira, 25 de agosto de 2020

SALAS DE CINEMA DE OUTROS TEMPOS – PARAMOUNT THEATRE, BRISTOL, TENNESSEE / VIRGINIA


De todas as salas de cinema nos Estados Unidos de que já vos falei, o Paramount Theatre, de Bristol, é a mais recente, porque ainda só vai a caminho dos 90 anos de idade.

Fica no nº 518 da State Street, a rua principal da cidade que é, simultaneamente, a fronteira entre os estados de Virgínia e Tennessee. Curiosamente, ficava muito perto dos Armazéns onde tiveram lugar as “Bristol Sessions”, de que ainda há bem pouco tempo vos falei.

Faz parte de um conjunto de “Paramount Theatres” que a “Paramount Corporation” fez construir durante os anos 30 em diversas cidades dos Estados Unidos. O custo total da sua construção foi 210.000 dólares.


Um pequeno parêntesis para vos dizer que estas salas da “Paramount” têm o seu lugar garantido na História do Cinema Americano, porque foi a sua existência que esteve na origem da “Lei Anti-Trust” de 1948, que passou a impedir que a produção e a exibição de filmes estivessem na mão do mesmo proprietário, que poderia garantir, dessa forma, a exclusividade de exibição de determinados filmes em determinadas salas. A partir dessa decisão judicial do Supremo dos Estados Unidos, a “Paramount” teve de se subdividir em duas companhias, a “Paramount Pictures Corporation” para a produção, e a “United Paramount Theatres”, para a exibição, mas sem direito a qualquer tipo de exclusividade.

Voltando ao cinema de Bristol, é um edifício em estilo “Art Deco”, de arquitetura inspirada em alguns trabalhos de Frank Lloyd Wright.

Tinha lugares sentados para 1.200 pessoas e foi inaugurado no dia 21 de Fevereiro de 1931, com uma curta comédia com Carole Lombard e Norman Foster que se chama “It Pays to Advertise”, realizada por Frank Tuttle e hoje completamente esquecida.

Diz-se que o seu interior era muito bonito, todo ele em mistura de estilo “Art Deco” e “Renascimento” e que a principal atração da sala de espetáculos era um enorme órgão “Mighty Wurlitzer”, que viria a ser fortemente danificado em 1954 por ocasião de obras de remodelação para a instalação do “Cinemascope”.


Durante o longo período em que esteve em funcionamento não exibiu apenas filmes, mas também, como era habitual nestes cinemas “de província”, peças teatrais e espetáculos musicais de diversos géneros, nomeadamente com as “big bands” de Tommy e Jimmy Dorsey e Harry James, e com cantores “Country” provenientes do Grand Ole Opry, de Nashville, tais como Tex Ritter, Ken Maynard, Ernest Tubb e Cowboy Copas.

Tal como quase todos os outros grandes cinemas na América, entrou em declínio nos anos 70 e o último filme que teve em exibição foi “Beyond the Poseidon Adventure”, um filme ação de Irwin Allen, em 1979.

Esteve encerrado durante quase 10 anos e depois foram obtidos fundos, nomeadamente junto da população, para a sua remodelação, a qual custou 2 milhões de dólares.

Reabriu em Abril de 1991, com um espetáculo de Tennessee Earnie Ford, um filho da terra, e tem-se mantido em atividade até agora sob a gestão de uma entidade não lucrativa, a “Paramount Fondation”. A sua lotação foi reduzida para 750 lugares, mas todo o restante esplendor do interior se manteve, incluindo um novo órgão “Mighty Wurlitzer”, do qual só existem cerca de 40 exemplares em todos os Estados Unidos.

Desde 1985 integra o “National Register of Historical Places.

Devido à pandemia, encerrou as suas portas no dia 15 de Março do corrente ano.


Mas como existe uma superstição nas gentes do teatro que diz que se todas as luzes de um teatro forem apagadas o mesmo será invadido por fantasmas, foi deixada acessa uma pequena luz no meio do palco, a que chamam “Ghost Light”.

Lá como cá o dinheiro para a Cultura não abunda, e foi lançada uma campanha junto da população para angariação de fundos que permitam suportar os encargos durante esta situação de crise

Entretanto, os espetáculo que foram cancelados estão a ser reprogramados já a partir do próximo mês de Setembro.

Espero, sinceramente, que os possam concretizar...

A seguir, apresento-vos um curto filme para que tenham uma ideia, principalmente na época do mudo, da importância do “Mighty Wurlitzer Organ” nas salas de cinema.


Texto e fotografias de Luís Miguel Mira

3 comentários:

Seve disse...

Tudo o que acabei de ler (e ver) é magnífico!

Felizmente que ainda há pessoas que continuam a fazer coisas bonitas apenas pelo prazer do belo.

Enquanto a sensibilidade não fôr riscada do humano ele sobreviverá.

Sammy, o paquete disse...

Os amigos, a família, sabem que, se eu mandasse, três meses eram riscados do calendário: Janeiro, Fevereiro e, principalmente Agosto.
Agosto sempre foi, para mim, um mês miserável e se a isso lhe juntarmos a pandemia chinesa, o Seve calculará como têm sido estes meus dias agostinianos. Sorte das sortes, o Luís Miguel Mira, com as suas brilhantes novas Crónicas da América, tem salvado a honra do Cais.
Se o Luís Mira, no almoço de quinta-feira que vamos ter, me voltar a dizer que isto não merece outro livro, temos grossa borrasca!
Mas só vim aqui para lhe dizer que o maldito Agosto não terminará sem eu rebuscar, e aqui publicar, uma crónica que o Luís Mira publicou no l º volume das «Crónicas da América» (2010), «Mother Road», sobre as «Vinhas da Ira», livro de John Steinbeck, filme de John Ford.

Seve disse...

Ó Sammy Ó Sammy "AS VINHAS DA IRA" é um dos livros da minha vida.