Para assinalar os 10
anos do CAIS DO OLHAR, os fins-de-semana estão guardados para lembrar
alguns textos que por aqui foram sendo publicados.
DEIXEM A MÚSICA PASSAR
Há quem os imortalize, há quem os
abomine.
Tive a minha fase abbaana, rapidamente
desfeita.
Restou uma boa meia dúzia de canções
para recordar.
Mas um dia a mezzo soprano sueca Anne
Sofie Von Hotter, rapariga com lugar de honra no meu panteão, surpreendeu
gravando, em Agosto de 2006, um disco em que recriou canções dos Abba. Chamou-lhe
I Left The Music Speak.
Em 2001, a meias com Elvis
Costello,em For the Stars já batera à porta das canções
dos Abba com Like Na Angel Passing Through My Room e
logo se notou a diferença.
Ainda em 2006 iniciou uma série de
concertos com I Left The Music Speak.
Pelos começos de Outubro de 2006
apresentou-se na Gulbenkian e mostrou-nos como é bonito que se deixe a música
falar.
Houve quem achasse que não era possível
ver Anne Sofie a cantar as piroseiras dos Abba e saíram a murmurar
para dentro de si mesmos que, afinal, os Abba são diferentes
do que eles supunham.
Anne Sofie embrulhou, com elegância
suprema, as canções dos Abba, num misto de solidão, nostalgia,
intimismo a que juntou sentimentos de melancolia, amargos e doces.
Sublime.
Como escreveu João Lisboa:
«Quando Elvis Costello declara que os
Abba pertencem ao núcleo restrito dos melhores "songwriters" pop de
sempre está apenas a fazer género ou deve ser levado a sério?
Quando Stephin Merritt (dos Magnetic Fields) afirma que foi com os Abba que aprendeu a escrever e lhes louva "a pureza matemática das canções que lhes permitia sobrepôr harmonias infinitas e milhões de partes de teclados nas misturas sem que isso soasse sobrecarregado nem as canções deixassem de ser simples", devemo-nos rir ou parar um bocadinho para voltar a ouvir e decidir se o homem se passou de vez ou está carregado de razão?
Quando Stephin Merritt (dos Magnetic Fields) afirma que foi com os Abba que aprendeu a escrever e lhes louva "a pureza matemática das canções que lhes permitia sobrepôr harmonias infinitas e milhões de partes de teclados nas misturas sem que isso soasse sobrecarregado nem as canções deixassem de ser simples", devemo-nos rir ou parar um bocadinho para voltar a ouvir e decidir se o homem se passou de vez ou está carregado de razão?
Por outras palavras, quando dois (e não
são, obviamente, só eles) dos mais unanimente elogiados autores de canções
contemporâneos se ajoelham perante o talento colectivo de Björn Ulvæus, Benny
Anderson, Agnetha Fältskog e Anni-Frid Lyngstad, haveremos apenas de soltar uma
gargalhada e responder "boa piada!" ou será que é somente a pura
verdade?»
The Winner
Takes It All
(O vencedor
fica com tudo)
Não quero falar
Acerca das coisas por que
passámos.
Já é passado
Joguei todas as cartas
E tu assim o fizeste também.
Não há mais nada a dizer
Não há mais trunfos para jogar.
O vencedor fica com tudo.
O perdedor fica encolhido
Ao lado da vitória
É esse o seu destino
Eu estava nos teus braços
Pensando que ali pertencia.
Achei que fazia sentido
Construir um muro,
Construir um lar.
Achando que ali seria forte
Mas fui tola
Ao jogar segundo as regras.
Os deuses jogam os dados
E as suas mentes são frias como o gelo.
E alguém que está aqui em baixo
Perde alguém que ama.
O vencedor fica com tudo
O perdedor tem de cair
É simples e claro
Por que me hei-de queixar?
Mas diz-me se ela te beija
Como eu te costumava beijar?
Será que sentes o mesmo
Quando ela diz o teu nome?
Algures dentro de ti
Deves saber que sinto a tua falta.
Mas que posso eu dizer?
As regras são para serem cumpridas.
Os juízes decidirão
O que terei de sofrer
Espectadores do show
Sempre distantes.
O jogo começo de novo
Um amante ou um amigo
Algo grande ou pequeno
O vencedor fica com tudo.
Não quero falar
Se isso te entristece,
E compreendo,
Vieste para apertar a minha mão.
Peço desculpa se te faz sentir mal
Veres-me assim tão tensa e insegura.
O vencedor fica com tudo…
(Tradução de Ofélia Ribeiro retirada do
programa do concerto)
Texto publicado 4 de Outubro de 2014
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