sábado, 8 de agosto de 2020

ANTOLOGIA DO CAIS


Para assinalar os 10 anos do CAIS DO OLHAR, os fins-de-semana estão guardados para lembrar alguns textos que por aqui foram sendo publicados.

DEIXEM A MÚSICA PASSAR

Há quem os imortalize, há quem os abomine.

Tive a minha fase abbaana, rapidamente desfeita.

Restou uma boa meia dúzia de canções para recordar.

Mas um dia a mezzo soprano sueca Anne Sofie Von Hotter, rapariga com lugar de honra no meu panteão, surpreendeu gravando, em Agosto de 2006, um disco em que recriou canções dos Abba. Chamou-lhe I Left The Music Speak.

Em 2001, a meias com Elvis Costello,em For the Stars já batera à porta das canções dos Abba com Like Na Angel Passing Through My Room e logo se notou a diferença.

Ainda em 2006 iniciou uma série de concertos com I Left The Music Speak.

Pelos começos de Outubro de 2006 apresentou-se na Gulbenkian e mostrou-nos como é bonito que se deixe a música falar.

Houve quem achasse que não era possível ver Anne Sofie a cantar as piroseiras dos Abba e saíram a murmurar para dentro de si mesmos que, afinal, os Abba são diferentes do que eles supunham.

Anne Sofie embrulhou, com elegância suprema, as canções dos Abba, num misto de solidão, nostalgia, intimismo a que juntou sentimentos de melancolia, amargos e doces.

Sublime.

Como escreveu João Lisboa:

«Quando Elvis Costello declara que os Abba pertencem ao núcleo restrito dos melhores "songwriters" pop de sempre está apenas a fazer género ou deve ser levado a sério?
Quando Stephin Merritt (dos Magnetic Fields) afirma que foi com os Abba que aprendeu a escrever e lhes louva "a pureza matemática das canções que lhes permitia sobrepôr harmonias infinitas e milhões de partes de teclados nas misturas sem que isso soasse sobrecarregado nem as canções deixassem de ser simples", devemo-nos rir ou parar um bocadinho para voltar a ouvir e decidir se o homem se passou de vez ou está carregado de razão?
Por outras palavras, quando dois (e não são, obviamente, só eles) dos mais unanimente elogiados autores de canções contemporâneos se ajoelham perante o talento colectivo de Björn Ulvæus, Benny Anderson, Agnetha Fältskog e Anni-Frid Lyngstad, haveremos apenas de soltar uma gargalhada e responder "boa piada!" ou será que é somente a pura verdade?»

The Winner Takes It All

(O vencedor fica com tudo)

Não quero falar
Acerca das coisas  por que passámos.
Já é passado
Joguei todas as cartas
E tu assim o fizeste também.
Não há mais nada a dizer
Não há mais trunfos para jogar.

O vencedor fica com tudo.
O perdedor fica encolhido
Ao lado da vitória
É esse o seu destino

Eu estava nos teus braços
Pensando que ali pertencia.
Achei que fazia sentido
Construir um muro,
Construir um lar.
Achando que ali seria forte
Mas fui tola
Ao jogar segundo as regras.

Os deuses jogam os dados
E as suas mentes são frias como o gelo.
E alguém que está aqui em baixo
Perde alguém que ama.

O vencedor fica com tudo
O perdedor tem de cair
É simples e claro
Por que me hei-de queixar?
Mas diz-me se ela te beija
Como eu te costumava beijar?
Será que sentes o mesmo
Quando ela diz o teu nome?
Algures dentro de ti
Deves saber que sinto a tua falta.
Mas que posso eu dizer?
As regras são para serem cumpridas.
Os juízes decidirão
O que terei de sofrer
Espectadores do show
Sempre distantes.
O jogo começo de novo
Um amante ou um amigo
Algo grande ou pequeno
O vencedor fica com tudo.

Não quero falar
Se isso te entristece,
E compreendo,
Vieste para apertar a minha mão.
Peço desculpa se te faz sentir mal
Veres-me assim tão tensa e insegura.
O vencedor fica com tudo…

(Tradução de Ofélia Ribeiro retirada do programa do concerto)

Texto publicado 4 de Outubro de 2014

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