sexta-feira, 14 de agosto de 2020

QUEM CONTA OS VOTOS SOMOS NÓS


Numa das suas deslocações à província, Humberto Delgado passou por Vila Velha que veio para a rua saudar a caravana. À frente, vinham as motas e os jipe da GNR, dois carros com agentes à paisana e, por fim, o automóvel preto do general seguido de um outro que lançava panfletos de propaganda. A meio do caminho, tinham sido confiscados os megafones da comitiva que ficara também reduzida à expressão mais simples pelas caprichosas imposições das autoridades, executadas por nervosos oficiais de ligação. Mas nada esfriou o entusiasmo dos vila-velhenses, apinhados ao longo da Rua da Restauração, gritando vivas ao general que prometia acabar com a PIDE e a censura e devolver aos cidadãos as liberdades e direitos sufocados pela ditadura que já ia no seu 32º aniversário.
- Que me diz à histeria que por aí vai? – interrogava, amedrontado, o dr. Leonardo Ferreira.
- O dianho do homem é um agitador de marca – reconhecia Guilherme Andrade. – Mas não se apoquente. Está tudo previsto. Quando chegar a altura, quem conta os votos somos nós.

Álvaro Guerra em Café Central

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