Corre
por este ano, o centenário do nascimento de Amália Rodrigues.
Desde
o início deste blogue, que não houve a preocupação de registar datas, sejam
elas quais forem.
À
medida sabe-se lá bem de quê, vamos falando do que nos apetece falar, de quem
nos apetece falar.
Falamos
hoje de Amália.
Amália
vista por Mário Sacramento no distante e difícil tempo de 1968.
A
entrada diarística está datada de 6 de Junho de 1968 e surge a propósito de um
Congresso de Radiologia, realizado na Aula Magna da Reitoria de Lisboa:
«Às
tantas, mas no salão, cantou a Amália. Se bem que deteste o fado, emocionou-me.
Tem nervo, tem arte – é da raça dos eleitos. Transforma em oiro o metal mais
vil. Toda de negro, como manda a praxe, mas com um cinturão de oiro, a maior
beleza do seu rosto está na tensão que imprime à jugular, quando canta. Nenhum
outro excesso. A boca é duma sensualidade incrível – toda a boca e não o lábio
inferior apenas. Alguns dentes mais escuros ou deteriorados sublinham a sua
verdade. Gaforina de leoa. Simplicidade sem embustes. E muito, muito carvão nos
olhos, ora extinto, ora em labaredas. Depois, o reportório, um reportório
certo: «Lisboa não sejas francesa»; ou «Mulheres que lavais no rio»… Amália,
comoveste-me. Sobretudo quando disseste (graciosamente, fora anunciado já)
porque o Sr. Dr. Corte Real me fez radiografias de graça quando eu não tinha
dinheiro com que pudesse pagar-lhas…
Até
nisso fado. Mas fado como não há outro.»
O
que transparece nesta opinião de Mário Sacramento é mesmo uma profunda
admiração por Amália, ele que nem sequer gostava de fado.
Há
alguns anos atrás, o actor Rogério Paulo divulgou que Amália Rodrigues, em
tempo de ditadura, ajudava monetariamente as famílias dos presos políticos.
Quando Amália morreu, José Saramago confirmou essa faceta por parte da artista.
Seria
essa ajuda do conhecimento de Mário Sacramento?
O
pormenor não interessa por aí além.
Em
Junho de 1972, numa entrevista a Guilherme de Melo, publicada no «Notícias de Lourenço Marques», Amália
disse:
«Já
tenho uma idade e já cheguei a uma altura da minha vida como mulher e da minha
carreira como artista em que não precisos de me agarrar às «direitas» para
subir ou às «esquerdas» para me evidenciar.»
Em
Amália, importa realçar a riqueza com que rodeava tudo o que interpretava, a
paixão com que envolvia todas as palavras que cantava fossem em português, em
francês, em espanhol, em inglês.
Um
verdadeiro esplendor, uma diva.
1 comentário:
Divas - aparecem de século a século!
Enviar um comentário