Para assinalar os 10
anos do CAIS DO OLHAR, os fins-de-semana estão guardados para lembrar
alguns textos que por aqui foram sendo publicados.
EM
LISBOA DEBAIXO DE CHUVA
Havia
a apresentação do site sobre o 25
de Abril da Agência
Lusa.
Terminado
o evento saí, mais o Luís
Pinheiro de Almeida, que tinha que ir buscar à Letra Livre, na Calçada do
Combro, uns livros que prometera ao Jack Kerouac.
Começou
a pingar, nada do outro mundo.
Sorte
das sortes – há bruxas! – encontrei na Letra Livre o
Vitor Silva Tavares a quem, em Dezembro de 2012, por ocasião do lançamento
do Para
já Para já, prometera mostrar-lhe a minha colecção encadernada
da &Etc., ficou encontro marcado, e aproveitar para,
finalmente, olhar o subterrâneo
maravilhoso que já deu um lindíssimo livro.
Quando
saímos da Letra Livre continuava a chover, mas um pouco
mais forte.
Subir
o que restava da Calçada do Combro, entrar pela Orion dentro
para um fininho e pastel de bacalhau.
Findo
o repasto, chovia torrencialmente.
O
Luís tinha um encontro marcado na Associação 25 de Abril e
avançámos para o Largo do Camões onde aproveitaria para comprar uma umbrella -
mais uma, disse ele -, odeio umbrellas e de corpinho bem feito, encharcado,
ataquei a descida da Rua do Alecrim e a pensar que nada que a barra mansa
do British-Bar não conseguisse resolver.
Lá
chegado, o espanto ficou um grande ah! na minha cara.
Fechado para obras.
Olhei
para dentro, apenas operários, nenhum dos trabalhadores do bar.
Informei-me.
Disse
quem por lá se encontrava a trabalhar, que apenas estão a fazer limpezas,
juntar alguns melhoramentos, ajeitar as casas de banho, lavar a cara, nada de
especial, sublinharam.
Mas
diz-se tanta coisa hoje em dia, e nada se cumpre, pelo que o melhor é esperar
para ver.
O
relógio que anda ao contrário, que aparece em A Cidade Branca do Alain Tanner disseram
que vai continuar, não falaram na fotografia do José Cardoso Pires, mas espero
que não se atrevam a tirá-la.
Pode
ser que tudo corra bem…
Certo,
é que da vez anterior, por ocasião das grandes obras, mão danificaram o estilo.
Apenas
aumentaram ligeiramente os preços.
Nada
a que não estejamos habituados.
Porque
não se pode destruir um bar que consegue parar o tempo, que tem um relógio que
anda ao contrário.
No British-Bar a
única música ambiente é o tilintar do gelo nos copos, e todos os seus
trabalhadores (antes e depois do dia mágico) têm o recato e a discrição dos
verdadeiros barmen: o que ouvem é como se não tivessem ouvido.
O
Cais do Sodré apresentava um pandemónio de trânsito, gente a correr,
buzinadelas.
Quarenta
e cinco minutos à espera do autocarro, lembranças ainda da barra mansa do BB e
o trautear de uma velha canção, vinda não sei a que propósito, talvez que por
Abril já entrámos e que diz quem somos, o que fazemos aqui, quem nos abandonou,
do que nos esquecemos…
Texto publicado em 5 de
Abril de 2014
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