Para assinalar os 10
anos do CAIS DO OLHAR, os fins-de-semana estão guardados para lembrar
alguns textos que por aqui foram sendo publicados.
SARAMAGUEANDO
Este é um mural que, até há uma semana, podia ser visto,
num edifício abandonado no Campo das Cebolas, perto da Casa dos Bicos sede da
Fundação José Saramago.
A notícia lia-a no Público.
O edifício foi agora demolido para dar lugar a um
parque de estacionamento.
Sempre chegamos ao sítio aonde nos esperam.
Estas palavras foram ditas pelo escritor português e
apareciam por baixo do desenho de Nark, que há cinco anos, com Ayer, Nomen e
Pariz, transformou a fachada do edifício abandonado.
Na altura, a intervenção, cuja ideia partiu da produtora
do documentário José e Pilar, contou com o apoio da Câmara
Municipal de Lisboa, através da sua Galeria de Arte Urbana.
Tudo foi agora destruído para que no vazio que ficou,
surja mais um parque de estacionamento.
Questionados os serviços camarários sobre esta
destruição, foi respondido que o graffiti era um projecto
efémero.
E acrescentaram: a demolição do edifício estava prevista
há muito tempo, no âmbito do Plano de Valorização e Requalificação do Campo das
Cebolas, que inclui a construção de um parque de estacionamento por parte da
EMEL
Há um tempo largo que tirei estas fotografias.
Ideia para um pequeno texto, tentativa de enquadramento
com palavras de Saramago.
Andava em busca das palavras.
Tencionava voltar para obter outros enquadramentos.
Jamais pensei que, como diz a Camara, esta obra era
efémera.
O que nos consola e torna seguros, é que efémera nunca
será a obra de José Saramago.
Pensando bem, não há um princípio para as coisas
e para as pessoas, tudo o que um dia começou tinha começado antes, a história
desta folha de papel, tomemos o exemplo mais próximo das mãos, para ser
verdadeira e completa, teria de ir remontando até aos princípios do mundo, de
propósito se usou o plural em vez do singular, e ainda assim duvidemos, que
esses princípios princípios não foram, somente pontos de passagem, rampas de
escorregamento, pobre cabeça a nossa, sujeita a tais puxões, admirável
cabeça, apesar de tudo, que por todas as razões é capaz de enlouquecer, menos
por essa.
Texto publicado em 11 de Agosto de 2015
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