Hoje.
O desencanto por um país que viveu momentos de exaltação e esperança, que chegou tão perto da felicidade, faltou apenas um golpe de asa.
Alguém se lembra como era dantes?
O tempo de se ter vivido exilado em Portugal.
O tempo de nos dizerem que era proibido e avançarmos, o tempo das correrias à frente dos cães polícias, da polícia de choque à frente, da água-tinta-azul, jorrada de canhões em cima de carrinhas.
O ano de 1973, por aquele 1º de Maio, foi o tempo do correr desenfreado pelas ruas da baixa, o tempo do desencanto, da impotência, mas também do saber que há coisas que não têm fim: a esperança num mundo melhor e a luta por consegui-lo. Saber que, numa qualquer madrugada, livres iríamos habitar a substância do tempo.
O “Diário Popular” de 3 de Maio de 1973 colocava em título:
A notícia terminava assim:
“Às 20 horas, chegou ao Comando das forças policiais a informação de que um grupo de rapazes aglomerados nas imediações das Portas de Santo Antão se preparava para partir montras. Tal não chegou a verificar-se, tendo, no entanto, seguido para o local uma secção de agentes que fez dispersar um pequeno ajuntamento que ali se havia formado.
Quase ao mesmo tempo, na praça da Figueira, outra secção da P:S.P., entrava em acção contra um grupo mais numeroso, do que resultaram mais correrias e algumas bastonadas.
Uns quantos manifestantes que se refugiaram no Metropolitano foram perseguidos pelos agentes, tendo, no entanto aproveitado a passagem de um comboio para se porem em fuga.”
Hoje, passados 37 anos sobre o primeiro 1º de Maio, o país vive rodeado de gente que fizeram da política, da governação, um jogo sem regras, nem dignidade.
Há muito que nos murcharam a festa, pá, mas há que encontrar uma semente num qualquer canto de jardim.
Estamos numa emergência.
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