segunda-feira, 22 de abril de 2013

ERA MIL VEZES PIOR, SÓ QUE...


Sempre, 25 de Abril sempre. Assim dizíamos, assim porventura se continuará a dizer. Hoje, 24 anos passados, mudemos de registo e gritemos: 25 de Abril nunca, nunca mais! Nunca mais acreditaremos na justiça social, nunca mais acreditaremos que as pessoas podem tornar-se diferentes, nunca mais acreditaremos na liberdade para todos. Porque a injustiça social grassa, as pessoas não se modificaram, a conquista das liberdades reias, não das formais, revelou-se inalcançável. É claro que os políticos eleitos que nos têm governado nunca reconhecerão como foram supérfluos, nunca admitirão que se converteram ao «monoteísmo de mercado», nunca confessarão que todos os dias recuamos ainda um pouco mais no caminho da igualdade e da fraternidade. Alimentam-se e alimentam-nos co discursos para ganhar eleições. E nada do que sonhámos será real. Era melhor antes do 25 de Abril? Não, era mil vezes pior. Só que ainda não era proibido sonhar.

António Rego Chaves, Diário de Notícias, 25 de Abril de 1998.

Legenda: cartaz de Marcelino Vespeira, retirado do álbum 25DEABRIL30ANOS100CARTAZES, Editorial Diário de Notícias, Abril 2004.

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