terça-feira, 2 de abril de 2013

O SOL DE ABRIL


Agora, em pleno céu, o Sol de Abril raiava em toda a sua glória, aquecendo a terra que estava em pleno trabalho de conceber. Do flanco maternal esguinchava a vida, os rebentos desabrochavam em folhas verdejantes, tremiam os campos com o alevantar subterrâneo das ervas. Por toda a parte sementes inchavam, alongavam-se, gretavam o chão, aguilhoadas por uma necessidade de calor e luz. Escorria um transbordar de seiva com vozes sussurrantes, o murmúrio dos germes expandia-se num grande beijo. E mais e mais - cada vez mais distintamente, como que aproximando-se do solo - os camaradas cavavam.” Aos raios inflamados do astro, por aquela manhã de juventude, era daquele rumor que a campina estava grávida. Surgiam homens; um exército negro, vingador, que germinava lentamente os alqueives, nascendo para as colheitas do século futuro, e cuja germinação não tardaria a fazer estoirar a terra.

Emile Zola em Germinal

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