segunda-feira, 1 de abril de 2013

O QUE EU QUIS DIZER É EXACTAMENTE O QUE EU DISSE


Mário Viegas (não) morreu no dia 1 de Abril de 1996.

Este é o programa de um convívio realizado, em plena ditadura, no Bar da Associação de Farmácia, e em que também participou Adriano Correia de Oliveira.

Foi retirado da Auto-Photo Biografia (não autorizada), de (António) Mário Viegas, publicada, em Maio de 2003, pela Câmara Municipal de Cascais.

Mário Viegas deixou este recado:

Foi neste recital, que estreei “In Sofrimento, In Sofrimento” do Ary dos Santos.

Insofrimento

Ao contrário das lágrimas dos velhos
ao contrário do riso dos melífluos
estas correntes postas nos artelhos
estes circuitos postos nos testículos.

Chocalhamos a raiva quando calha

quando não calha calha-nos a vez
e falha-nos a voz e somos a escumalha
dum país vazilhado e pretoguês.

Ai Dom Sebastião

tão tão tão
tão encoberto que pouca gente sabe
que o nevoeiro encobre
um português suave.

Ai Dona Leonor

dor dor dor
dor tão fina tão santa tão concórdia
que tanta gente aposta
na bosta que lhe oferece a Misericórdia.

Ai nossa Dona Inêz

talvez talvez talvez
que Pedro Justiceiro nos coma o coração
- era Pero Pinheiro
com um pero na mão.

Ai meu Pedro

meu erro
minha torre
meu cedro

minha altura de medo

de aonde me quebro.

José Carlos Ary dos Santos em Insofrimento In Sofrimento, Edição do Autor Lisboa Maio de 1969.

Legenda: o título é uma citação de Samuel Beckett que Mário Viegas colocou no fim da sua Auto-Photo Biografia (não autorizada).

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