Surgiu hoje nas bancas o nº 1111 do JL.
Convocaram os colaboradores de hoje para, em 1111 caracteres,
falarem do que lhes ofereceu dizer sobre o jornal e, repescaram textos de
alguns dos muitos colaboradores que, ao longo de 33 anos, passaram por aquelas
páginas e que, infelizmente, já não se encontram entre nós: Fernando Assis
Pacheco, Eduardo Prado Coelho, Manuel António Pina, Alexandre O’Neill, Augusto
Abelaira, José Saramago, Alexandre Pinheiro Torres, João de Freitas Branco,
David Mourão-Ferreira, António José Saraiva.
Também há textos de Agustina Bessa Luís e António
Ramos Rosa que, por motivos de doença não puderam prestar a sua colaboração.
Em lugar de destaque o texto de Rodrigues da Silva
em que, em palavras corajosas e sentidas, se despediu do jornal, ele que
emprestara, com o seu fulgor, inteligência e cultura, o melhor de si, para
tirar o jornal do cinzentismo que o acompanha desde o primeiro número.
No editorial do primeiro número prometia-se que o JL
pretendia ser algo de novo entre nós, um quinzenário de cultura potencialmente
para toda a gente.
Para mim foi uma pequena desilusão.
Tirando a entrevista que, na Costa da Caparica,
Fernando Assis Pacheco fez a José Cardoso Pires, uns maravilhosos tordos fritos,
temperados e fritos pelo Zé, tudo o resto, desse primeiro número, cheirava muito a hermético
para pretensos iluminados.
Teresa Clara Gomes, falando desse primeiro número,
disse:
Desiludiu-me.
Esperava um jornal que me desse gosto ler, saíu-me mais um dever do que um
prazer. Acho o conjunto pesado, tanto na paginação como no conteúdo. Lamento,
além disso, o tradicional elitismo co conceito de cultura subjacente à maioria
dos textos. Diz-se que é um jornal de letras, artes e ideias, e as ideias quase
não tocam o tecido cultural do nosso quotidiano. Esquecem-se, além disso,
certas expressões culturais que nascem de criadores não intelectuais. Espero
que isso seja meramente acidental e não corresponda uma intenção dos
responsáveis.
Leitor desde o primeiro número, mantenho com o JL um
sentimento de amor e ódio.
Não posso deixar de lembrar as entrevistas, os
dossiers, as pré-publicações livros, e o Jorge Listopad, mais o seu Coelhinho.
Mas fica-me, em cada número, a sensação que nunca
conseguiu ser o jornal cultural para toda a gente.
Porém, no triste panorama em que hoje vive o jornalismo cultural, há
que saudar a persistência do JL em fornecer-nos lampejos que rompem
com a mediocridade reinante.
É, realmente uma lufada de ar fresco.
Começou como quinzenário, custava 25 escudos – na altura,
era dinheiro -, mais tarde passou a semanal, mas dadas dificuldades de ordem
vária, voltou a quinzenário e hoje custa 2,80 euros.
Continua ser dinheiro!...
Está hoje nas bancas o número 1111.
Que chegue ao 2222, e por aí fora.
Legenda: a capa e a contracapa deste JL, tal como no primeiro
número, são desenhadas por João Abel Manta.
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