terça-feira, 30 de abril de 2013

JL VEZES 1111


Surgiu hoje nas bancas o nº 1111 do JL.

Convocaram os colaboradores de hoje para, em 1111 caracteres, falarem do que lhes ofereceu dizer sobre o jornal e, repescaram textos de alguns dos muitos colaboradores que, ao longo de 33 anos, passaram por aquelas páginas e que, infelizmente, já não se encontram entre nós: Fernando Assis Pacheco, Eduardo Prado Coelho, Manuel António Pina, Alexandre O’Neill, Augusto Abelaira, José Saramago, Alexandre Pinheiro Torres, João de Freitas Branco, David Mourão-Ferreira, António José Saraiva.

Também há textos de Agustina Bessa Luís e António Ramos Rosa que, por motivos de doença não puderam prestar a sua colaboração.

Em lugar de destaque o texto de Rodrigues da Silva em que, em palavras corajosas e sentidas, se despediu do jornal, ele que emprestara, com o seu fulgor, inteligência e cultura, o melhor de si, para tirar o jornal do cinzentismo que o acompanha desde o primeiro número.

No editorial do primeiro número prometia-se que o JL pretendia ser algo de novo entre nós, um quinzenário de cultura potencialmente para toda a gente.

Para mim foi uma pequena desilusão.

Tirando a entrevista que, na Costa da Caparica, Fernando Assis Pacheco fez a José Cardoso Pires, uns maravilhosos tordos fritos, temperados e fritos pelo Zé, tudo o resto, desse primeiro número,  cheirava muito a hermético para pretensos iluminados.

Teresa Clara Gomes, falando desse primeiro número, disse:

Desiludiu-me. Esperava um jornal que me desse gosto ler, saíu-me mais um dever do que um prazer. Acho o conjunto pesado, tanto na paginação como no conteúdo. Lamento, além disso, o tradicional elitismo co conceito de cultura subjacente à maioria dos textos. Diz-se que é um jornal de letras, artes e ideias, e as ideias quase não tocam o tecido cultural do nosso quotidiano. Esquecem-se, além disso, certas expressões culturais que nascem de criadores não intelectuais. Espero que isso seja meramente acidental e não corresponda uma intenção dos responsáveis.

Leitor desde o primeiro número, mantenho com o JL um sentimento de amor e ódio.

Não posso deixar de lembrar as entrevistas, os dossiers, as pré-publicações livros, e o Jorge Listopad, mais o seu Coelhinho.

Mas fica-me, em cada número, a sensação que nunca conseguiu ser o jornal cultural para toda a gente.

Porém, no triste panorama em que hoje vive o jornalismo cultural, há que saudar a persistência do JL em fornecer-nos lampejos que rompem com a mediocridade reinante.

É, realmente uma lufada de ar fresco.

Começou como quinzenário, custava 25 escudos – na altura, era dinheiro -, mais tarde passou a semanal, mas dadas dificuldades de ordem vária, voltou a quinzenário e hoje custa 2,80 euros.

Continua ser dinheiro!...

Está hoje nas bancas o número 1111.

Que chegue ao 2222, e por aí fora.

Legenda: a capa e a contracapa deste JL, tal como no primeiro número, são desenhadas por João Abel Manta.

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