A escritora e
docente Luísa Dacosta morreu aos 87 anos.
Fui sempre mais homenageada como professora do que
como escritora.
Temos o triste
condão de não partilhar os nossos melhores.
Sejam escritores,
pintores, o que quer que seja, menos futebolistas e cantores-pimba.
Preferimos o supérfluo
e o folclore medíocre e oco.
Gostava muito de
ser professora e não conseguia imaginar a sua vida sem livros.
Militou na
Oposição Democrática contra a ditadura.
Considerava o
acordo ortográfico um crime.
Habituei-me a
ler na Seara Nova as suas amáveis e poéticas crónicas.
Chamou-lhes
A Ver-o-Mar.
Um título tão
bonito como a escrita.
No seu Diário,
falou das suas vivências em Timor.
Tínhamos, sem remorsos, abandonado um povo que durante
séculos fora feitoria e colónia, primeiro a uma luta fraticida e partidária,
depois a uma invasão.
Confessando:
Ia realmente percorrer os caminhos, as terras, as
águas do mapa? Ia conviver com as gentes que sabia da enciclopédia e dos poetas?
Ali estava à procura dum destino, disposta a mar. A
dar e a receber. Ah! esquecida de que a vida lhe recusara sempre destinos e que
tudo o que tocava nas mãos, apodrecia, maleficamente, se esgarçava…
Palavras finais
de Na Água do Tempo, escritas em Dezembro de 1987:
O tempo arrefece. Mas há sol e na linha do horizonte
uns flocos de nuvens levemente rosadas como borlas de pó-de-arroz, 1920. Sobre
as águas um jogo de velas. Os brancos fendidos oscilam, bailam sobre o azul –
rodinha de borboletas, entre o leque aberto da rama dos pinheiros.
De manhã, dava logo de rosto com o mar, porquê
então aquela melancolia? Olhava aquela beleza balética, oscilante, grácil, como
se olhasse um campo lavrado de lágrimas. Era dela, dentro dela, que a
melancolia morava.
Legenda: pormenor de uma crónica A Ver-o-Mar de Luísa Dacosta, publicada na Seara Nova nº 1461, Julho de 1967.
Legenda: pormenor de uma crónica A Ver-o-Mar de Luísa Dacosta, publicada na Seara Nova nº 1461, Julho de 1967.
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