sábado, 28 de fevereiro de 2015

TODAS SÃO RIDÍCULAS


Joaquina escrevia cartas de amor, quase todos
 Os dias, ao seu "adorado" António. Acabava
 com "tua para sempre" na sua letra redonda
 e miúda. Dobrava cuidadosamente a folha,
de linhas azuladas e introduzia-a no envelope,
que tinha forro violeta. Depois de escrito o
endereço postal, metia a carta por uns
segundos no decote, como para lhe transmitir
algo da própria pele. Sandra recebeu um sms
do Hugo. Guardou nas mensagens
recebidas para reler de novo. Era do rapaz que
tinha conhecido na véspera. Trazia muitos sinais
redondos a enviar sorrisos e muitas
abreviaturas de palavras, como por exemplo:
Bjs. Já tinha armazenado na pasta respectiva
do pequeno celular, várias mensagens
 daquelas, do Tiago, do Rodrigo, do Diogo, do
Afonso... Só ainda não tinham
descoberto a abreviatura da palavra "amor".
Ignora-se porque certas palavras resistem à queda das
letras, por muito tempo...

Inês Lourenço

(Poema colocado por Nicolau Santos na sua coluna de economia do Expresso de 29 de Março de 2013).

Sem comentários: