Rui VieiraNery
chamou-lhe Príncipe.
Um Príncipe de
uma humildade arrepiante.
Em 11 de Outubro
de 1967, entrevistado por José Carlos Vasconcelos para o Diário de Lisboa,
dizia que não havia condições para ser profissional:
O profissionalismo de quem acompanha ou dá
espectáculos não é o que eu idealizo, nem me interessa. O que eu desejava era
poder especializar-me, estudar o instrumento, até com intuitos pedagógicos.
Isto é: desenvolver um trabalho de investigação, que está por fazer, no campo
da técnica, tentando integrar a guitarra em bases que a tornassem um
instrumento capaz de permitir a qualquer compositor escrever para ele.
C. B. em A Capital de 3 de Abril de 1971:
Carlos Paredes
não diz quem é, não fala de si. Não tem uma história decorada onde estão
cuidadosamente assinalados cada êxito, cada digressão. Não tem álbum para
colocar fotografias dos locais onde trabalhou, de quando colaborou no cinema,
no teatro, acompanhou a Amália ou foi entrevistado para a Televisão. Com ele só
é possível falar da guitarra portuguesa, mesmo que lhe façam vinte perguntas
seguidas sobre a sua vida de artista. Vive as possibilidades, as limitações da
guitarra. Fala dos seus êxitos, do seu nascimento, da sua morte, mas ele,
Carlos Paredes, apaga-se perante a guitarra de que fala sempre e só.
Já depois do 25
de Abril António Duarte telefona-lhe a pedir uma entrevista para o JL.
Diz-lhe:
Mas acha que eu tenho categoria para ser entrevistado
pelo Jornal de Letras?
Sentado a uma
velha secretária de madeira, no arquivo de películas do Hospital de S. José,
onde foi reintegrado depois do 25 de Abril, após ter sido demitido de funcionário
público em consequência da prisão por pertencer ao Partido Comunista Português,
acabou por dar a entrevista e disse:
Quero ser considerado um pequeno músico e se me
conseguir realizar como pequeno músico, sentir-me-ei extremamente satisfeito.
Nasceu a 16 de
Fevereiro de 1925, em Coimbra, mas quando morreu no dia 23 de Julho de 2004, já
nos deixara, em Dezembro de 1993, acometido de mielopatia, um processo degenerativo
na coluna vertebral que vai afectando o sistema nervoso central.
Num texto publicado
no DNA, Catarina Carvalho escreveu:
Legenda:
- fotografia de Eduardo Gageiro do CD Uma Guitarra Com Gente Dentro, Universal Music Portugal.
- Título do Diário de Lisboa de 11 de Outubro de 1967.
- Carlos Paredes fotografado pela PIDE em 1958, fotografia da revista Vida de O Independente s/d
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