O Inverno em Lisboa
Antonio Muñoz
Molina
Capa: Rogério
Petinga
Tradução: Carlos
Martins Pereira
Quetzal
Editores, Lisboa s/d
Saudámo-nos sem entusiasmo: fora sempre assim. A nossa
amizade tinha sido descontínua e nocturna, fundada mais na semelhança de
preferências alcoólicas – a cerveja, o vinho branco, a genebra inglesa, o
bourbon – do que em qualquer espécie de impudor confessional, no que nunca ou
quase nunca incorremos. Bebedores inveterados, ambos desconfiávamos dos
exageros do entusiasmo e da amizade que a bebida e a noite trazem consigo: só
uma vez, quase de madrugada, sob a influência de quatro imprudentes dry
martinis, Biraldo me falara do seu amor por uma rapariga que eu conhecia muito
superficialmente – Lucrécia – e de uma viagem que fizera com ela e de que
acabava de regressar. Ambos bebemos demasiado naquela noite. No dia seguinte,
quando me levantei, verifiquei que não tinha ressaca, mas que estava ainda
grosso, e que esquecera tudo o que o Biraldo me contara. Lembrava-me unicamente
da cidade onde devia ter terminado aquela viagem tão rapidamente iniciada e
concluída: Lisboa.
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