Do Fim do Mundo
Nuno Bragança
Capa: João
Segurado
Edições O
Jornal, Lisboa 1990
«Não percebo» - interrompeu Luciano.
«Escuta então», disse Túlio na sua voz arrastada.
«Desde pequeno que gosto do que é organizado e tem tamanho. Gosto de saber onde
começa e onde acaba tudo. A vida deixou de me inquietar nessa noite em que
descobri que ela não era um abismo que se abria infinitamente diante de mim, mas
sim um percurso limitado, que eu podia povoar o mais inteligentemente possível.
Odeio racionalmente os cristãos, com tudo o que há de greco-romano em mim.
Nunca me dei à maçada – depois de adulto, claro – de discutir com gente
religiosa, mas sempre me diverti por dentro quando alguém me vinha com o velho
fantasma da morte. Percebes, eu perdera o medo à vida no dia – aliás noite – em
que reconheci a fundo que era mortal».
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