Já foi há um bom
par de meses que se ficou a saber que os herdeiros de José Cardoso Pires
decidiram que as obras do autor deixavam de ter a chancela das Publicações Dom
Quixote.
A editora perde,
dos seus catálogos, um nome de vulto da literatura portuguesa.
Desde que a Leya
comprou editoras como as Publicações Dom Quixote, a Caminho,
bem como outras, aos poucos tem vindo a perder autores que saem muito pouco
satisfeitos com o trabalho do consórcio.
Entre outros já
saíram José Saramago, Mário de Carvalho, João Tordo e agora José Cardos Pires.
Fica ainda
António Lobo Antunes mas acredita-se que só por ali se mantém porque é «surdo».
Talvez que a
aglutinação de editoras seja algo inevitável.
O problema da Leya
é que, desde o seu começo, apenas esteve interessada em lucros, nunca em
cultura.
Ao contrário da Texto
Editora, que também comprou outras editoras, mas que teve o cuidado de
colocar à frente da edição um homem que sabe o real e único valor dos Livros: o
poeta Manuel Alberto Valente.
Que em Maio de
2008 teve o cuidado de dizer:
Os primeiros sinais que surgem entre nós deixam
antever uma filosofia a subordinação dos
diferentes quadros editoriais a um «comité central» completamente alheio ao
mundo do livro.
A Leya pouco ou nada se preocupou com
livros e com os autores.
Aliás tudo aquilo começou mal, no exacto
momento em que dispensaram, verdadeiro crime de lesa pátria, o editor Nelson de
Matos que, durante anos, foi a trave mestra da Dom Quixote.
À agência Lusa,
o editor João Amaral, das Publicações D. Quixote, que detinha os
direitos da obra de Cardoso Pires, confirmou a saída do autor do seu catálogo,
por decisão das herdeiras.“Fiz tudo o que podia fazer pela obra de Cardoso
Pires, e é um autor em que nada me pesa na consciência”, disse.
José Cardoso Pires passa a ser editado pela Relógio d’Água que à frente tem Francisco
Vale, escritor e um homem que há muitos anos tem conseguido edificar um
projecto editorial de qualidade.
Disse o editor,
à Lusa:
Até meados de junho, a Relógio D’Água vai editar
quatro obras de José Cardoso Pires, contribuindo assim para o regresso às
livrarias de um dos mais importantes prosadores portugueses do século XX”,
disse fonte da editora. “Os livros reproduzem as últimas edições revistas
pelo autor”, mas têm novos prefácios: o romance “Balada da praia dos cães” será
prefaciado por António Lobo Antunes, a novela “O anjo ancorado”, por Mário de
Carvalho e, “O delfim”, por Gonçalo M. Tavares.
Porque isto de
editar livros não é para qualquer um.
O editor francês
Galimard era de opinião de que o verdadeiro editor é aquele que procura
publicar um livro que gostaria de encontrar como leitor.
É uma relação de
amor, de gosto, de responsabilidade.
Os livros não
são coisas pontuais
A leitura faz de
nós melhores pessoas, melhor ainda quando há editores que quando nos apresentam
as obras dos autores o fazem em edições bonitas, agradáveis.
Nos inícios dos
anos 80, quando Henrique Monteiro assumiu a direcção da Assírio & Alvim,
que estava à beira da falência, disse:
Gosto de pensar que edito livros como quem trata de
uma vinha.
Um outro exemplo:
Em Junho de 2011
o editor José da Cruz Santos começou a disponibilizar novas edições da obra de
Eugénio de Andrade.
Aconteceu, porém,
que uma gralha caiu no título de uma das obras.
De imediato o
editor fez publicar, nos jornais, um pedido de desculpas e de rectificação e
assegurava que devolvia o dinheiro, mais os portes, a todos os que não quiserem
ficar com o livro.
Estão a ver Miguel
Pais do Amaral, corredor de automóveis (correr em Le Mans é o máximo, o
prazer de correr é único e sinto-me um privilegiado, disse, um dia, numa
entrevista) a ter uma atitude destas?
Claro que não!
No dia 2 de
Outubro, José Cardoso Pires faria 90 anos.
Legenda: retrato
de José Cardoso Pires por Júlio Pomar e capa de O Anjo Ancorado,
publicado pela Relógio D’Água e com prefácio de Mário de Carvalho
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