No dia 16 de Agosto morreu Peter Fonda. Tinha 79 anos.
Filho de Henry Fonda, irmão de Jane Fonda.
Borrifou-se em Hollywood, preferiu ser um
independente, deixa para a História do Cinema «Eassy Rider», ao lado de Dennis
Hopper, um filme que custou 342 mil euros e rendeu 36 milhões.
«Enquanto lamentamos a perda deste homem doce e
encantador, também desejamos que todos celebrem o seu espírito indomável e o
seu amor à vida. Em homenagem a Peter, por favor, façam um brinde à liberdade», pode ler-se num comunicado escrito pela família.
Luís Miguel Mira, numa das suas crónicas sobre a
América escreve sobre Easy Rider:
«Easy Rider” é, como se sabe, um marco da
“Contracultura” americana dos anos 60/70 e um dos filmes que deu maior impulso
ao surgimento de um novo tipo de cinema na América, aquilo a que Peter Hiskind
chamou a “Nova Hollywood”.
E é em Krotz Springs, no Louisiana, a muito poucas milhas da “Highway 61”, que acaba “Easy Ryder”, naquela pavorosa cena final em que os dois “motards” interpretados por Peter Fonda e Dennis Hopper são mortos a tiro de caçadeira por um duo de inofensivos agricultores locais, “just to watch them die”, como na canção do Johny Cash. E depois a câmara sobe até ao céu deixando ver os corpos deitados e a mota em chamas e aparece um rio que poderia ser o Mississippi, mas não é, enquanto Roger McGuin arranca lentamente com a “Ballad” que acompanha o genérico final:
“The river flows, it flows to the sea
Wherever that river goes, that’s where I want to be”
Uns dias antes, pouco antes de ter sido ele próprio morto à paulada pela calada da noite, o jovem advogado interpretado por Jack Niicholson, que bebia whiskey pelo gargalo em memória de D.H. Lawrence, já lhes tinha explicado, em conversa, porque razão eles iriam morrer:
“- Sabem, este costumava ser um país formidável. Não compreendo o que se passa…
- Acobardaram-se todos, é o que é. Nem num hotel de 2º…. num motel de 2ª conseguimos entrar. Acham que os vamos degolar ou coisa assim…Têm medo.
- Não têm medo de vocês, têm medo do que vocês representam.
- Só representamos quem precisa de cortar o cabelo…
- Não. O que vocês representam é a liberdade.
- E que mal tem a liberdade…? Ela é o mais importante.
- Ela é o mais importante, sim senhor, mas falar dela e vivê-la são duas coisas diferentes. Quer dizer, custa muito ser-se livre quando se é comprado e vendido no mercado. Mas nunca lhes digam que não são livres senão vão matar e mutilar só para provar que são. Vão falar convosco e falar convosco e falar convosco sobre liberdade individual. Mas quando veem um individuo livre, sentem medo…
- Mas isso não os põe a fugir assustados…
- Não. Torna-os perigosos…”
Se nenhum outro mérito tivesse, “Easy Rider” ficará sempre, para mim, como o filme premonitório do fim de um Sonho, o final de uma Utopia...Quase a acabar o filme já Peter Fonda tinha desabafado, com ar dolorido: “estragámos tudo…”.
O filme foi lançado em Julho de 1969. Em Agosto desse ano, Woodstock ficou célebre mas já não correu muito bem. Altamont, em Dezembro, foi um desastre… No ano anterior tinham sido assassinados Martin Luther King Jr e Robert Kennedy. A América tão depressa não voltaria a ser a mesma…»
E é em Krotz Springs, no Louisiana, a muito poucas milhas da “Highway 61”, que acaba “Easy Ryder”, naquela pavorosa cena final em que os dois “motards” interpretados por Peter Fonda e Dennis Hopper são mortos a tiro de caçadeira por um duo de inofensivos agricultores locais, “just to watch them die”, como na canção do Johny Cash. E depois a câmara sobe até ao céu deixando ver os corpos deitados e a mota em chamas e aparece um rio que poderia ser o Mississippi, mas não é, enquanto Roger McGuin arranca lentamente com a “Ballad” que acompanha o genérico final:
“The river flows, it flows to the sea
Wherever that river goes, that’s where I want to be”
Uns dias antes, pouco antes de ter sido ele próprio morto à paulada pela calada da noite, o jovem advogado interpretado por Jack Niicholson, que bebia whiskey pelo gargalo em memória de D.H. Lawrence, já lhes tinha explicado, em conversa, porque razão eles iriam morrer:
“- Sabem, este costumava ser um país formidável. Não compreendo o que se passa…
- Acobardaram-se todos, é o que é. Nem num hotel de 2º…. num motel de 2ª conseguimos entrar. Acham que os vamos degolar ou coisa assim…Têm medo.
- Não têm medo de vocês, têm medo do que vocês representam.
- Só representamos quem precisa de cortar o cabelo…
- Não. O que vocês representam é a liberdade.
- E que mal tem a liberdade…? Ela é o mais importante.
- Ela é o mais importante, sim senhor, mas falar dela e vivê-la são duas coisas diferentes. Quer dizer, custa muito ser-se livre quando se é comprado e vendido no mercado. Mas nunca lhes digam que não são livres senão vão matar e mutilar só para provar que são. Vão falar convosco e falar convosco e falar convosco sobre liberdade individual. Mas quando veem um individuo livre, sentem medo…
- Mas isso não os põe a fugir assustados…
- Não. Torna-os perigosos…”
Se nenhum outro mérito tivesse, “Easy Rider” ficará sempre, para mim, como o filme premonitório do fim de um Sonho, o final de uma Utopia...Quase a acabar o filme já Peter Fonda tinha desabafado, com ar dolorido: “estragámos tudo…”.
O filme foi lançado em Julho de 1969. Em Agosto desse ano, Woodstock ficou célebre mas já não correu muito bem. Altamont, em Dezembro, foi um desastre… No ano anterior tinham sido assassinados Martin Luther King Jr e Robert Kennedy. A América tão depressa não voltaria a ser a mesma…»
4 comentários:
Excelente diálogo...
Um filme, naturalmente datado, mas um grande filme. Tem algumas partes que suponho – mas quem sou eu?! –que poderiam ter sido suprimidas, mas o restante é marial soberbo.
Para além de uma banda sonora para a qual faltam adjectvos para a classificar.
Inicialmente a banda sonora era para ter siso constituída com canções de Crosby, Stills, Nash &Young, mas segundo conta o Dennis Hooper, a coisa já estava muito avançada quando um dia combinaram um encontro e a rapaziada apareceu ao encontro numa grande "limousine branca". O Hooper teve uma reacção do tipo "gajos que andam de limousine não poderão jamais fazer parte do meu filme" e mandou-os bugiar...
Peter Fonda-O seu pai, Henry Fonda, foi talvez o primeiro grande actor de cinema que primeiramente me encantou, era eu ainda uma criança.
Excelente este post e excelentes estes comentários. Realmente este blogue continua a encantar-me, sinceramente!
Na fotografia parece-me o Jack Nicholson.
Uma parecença incrível, mas é mesmo o Peter Fonda.
Tinha uma velha amizade com o Jack Nicholson e colocou-o no «Eazy Rider» num curto mas brilhante papel de advogado que adorava o desporto líquido e de D. H. Lawrence. Gostei imenso dessa interpretação de Nicholson e deu para ver que estava ali o desabrochar de um grande actor.
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