O maior bocado
das nossas vidas são perdas.
Eduardo Guerra Carneiro,
no começo do ano de 2004, decidiu não viver mais.
Talvez a 2 ou 3
de Janeiro, não importa muito o dia, foi encontrado na laje do prédio onde
vivia, ali ao Príncipe Real, mais concretamente, na Travessa do Abarracamento
de Peniche.
Um voo filho da
puta pôs fim à solidão do Eduardo Guerra Carneiro.
O Baptista-Bastos
escreveu que ele atirou-se para o céu.
Ainda há dias o
Manuel S. Fonseca escrevia: Eis o que sendo humano me é estranho: o
suicídio.
No livrinho Profissão de Fé, a páginas 33, encontram lá este começo de poema que dá nome ao livro:
A dor é isto: um vazio. E sentir
depois um vazio maior – esperar
a morte. Escrevo, assim, convicto,
num estado semelhante ao pó,
mas em lava ardente procuro
a maneira ainda de incendiar.
A morte é isto? Um vazio? Mas
escrevo para contar aos outros
deste sentimento estranho. Ao espelho
vejo ressentimento, usura, uso
e abuso do tempo que me deram.
E ardo na paixão gelada, sem morrer.
Espero por ti, seguro que já sei
nada mais de ti esperar.
depois um vazio maior – esperar
a morte. Escrevo, assim, convicto,
num estado semelhante ao pó,
mas em lava ardente procuro
a maneira ainda de incendiar.
A morte é isto? Um vazio? Mas
escrevo para contar aos outros
deste sentimento estranho. Ao espelho
vejo ressentimento, usura, uso
e abuso do tempo que me deram.
E ardo na paixão gelada, sem morrer.
Espero por ti, seguro que já sei
nada mais de ti esperar.
Sim, posso pegar
nos livros do Eduardo e ler as maravilhas que nos deixou.
Mas é sempre um
enorme vazio.
Legenda: o
título é um verso do Eduardo em Algumas Palavras
2 comentários:
Também gosto muito da poesia e das crónicas do Eduardo...
O Jorge Silva Melo, após a morte do Eduardo, «exigiu» que se fizesse um livro, mesmo um livro desarrumado e incerto, com o que ele deixara, fosse o que fosse. Mas já vão 16 anos e… nada.
Em Abril de 2014, no subterrâneo da & etc, numa conversa com o Vitor Silva Tavares, seu amigo e editor, falei do espólio do Eduardo e ele não me conseguiu adiantar palavras que permitissem acalentar uma leve esperança que viesse a fazer-se qualquer coisa.
Sei de uma antologia, «Mil e Outras Noites» editada pela Língua Morta, em Maio de 2018. Terminado este Tempo de Natal – já não falta muito!... – irei em busca do livrinho. Será o primeiro livro a comprar neste bissexto 2020, e é muito bonito que seja um livro do Eduardo.
Gostava muito do Eduardo Guerra Carneiro,
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