PANCADAS DE MOLIÉRE

Se bem que sombrio, o Teatro português, antes do 25 de Abril, tem algumas particularidades interessantes.
Nos anos 60 o Teatro Nacional D. Maria II estava longe de cumprir a missão que incumbe a uma companhia nacional. A companhia dirigida por Amélia Rey Colaço/Robles Monteiro fugia a tudo o que pudesse causar cócegas à ditadura.
Nessa década começa a assistir-se à germinação de companhia de teatro amador, um pouco por todo o país, dinamizadas por gente que tinha do uma formação moderna, que entendia que o teatro não pode ser apenas divertimento.
 Também o teatro universitário que exercerá um papel fundamental na formação de actores e espectadores, teatro maioritariamente dirigido por gente, na sua maioria anti-regime: Rogério Paulo, Jorge Silva Melo, Fernando Gusmão, entre outros.
Volta e meia, no teatro universárioa, aparecia gente vinda de outras paragens, com outros ares, gente com uma visão aberta e independente, que, normalmente não concluíam o seu trabalho porque a PIDE os colocava fora das fronteiras.
Mas que deixaram sementes, grãozinhos na engrenagem: Adolfo Gutkin, Victor Garcia, Ricardo Salvat.
Depois, no Parque Mayer, havia o teatro de revista. Para além das pernas ao léu e das cantorias, por vezes, era possível encontrar rábulas com algumas bicadas, não muito acutilantes  à ditadura, principal durante aquele breve engano que ficou para a história como a primavera marcelista.
E havia Vasco Morgado.
Vasco Morgado era o empresário do Teatro Monumental. Aí dava espaço a um teatro comercial, maioritariamente interpretado por sua mulher, a actriz Laura Alves.
Mas, por vezes, saltavam umas pérolas.
Em princípios de 1966, trouxe a Portugal a Companhia de Tonia Carrero.

Na companhia, para além de Tonia Carrero, pontificava Paulo Autran que, anos mais parte, os portugueses passarão a conhecer através das telenovelas brasileiras.

 

No dia 2 de Fevereiro de 1966, sessão das 21,45 h., sentado na 1ª plateia, Fila J, cadeira 29, deliciava-me com Seis Personagens à Procura de um Autor, de Pirandello.

(Para uma mais fácil leitura, clicar sobre a imagem dos textos)