sexta-feira, 7 de junho de 2013

COISAS EXTINTAS OU EM VIAS DE...


Este anúncio d' O Porão da Nau é tirado da contracapa de um espectáculo da Companhia de Tonia Carrero no Teatro Monumental, Fevereiro de 1966.

Nos anos 60, o findar das noites, acontecia n’ O Porão da Nau e dele se fazia um enorme ponto de encontro.

As mais variadas gentes da noite, marcavam presença n' Porão: para um copo, para cear, para o encontrar de um ombro que selasse a solidão.

Gente do teatro, boémios loucos, outros boémios, homens da televisão da rádio, dos jornais, os matutinos fechavam, entãoàs 2 da madrugada, todos por ali se encontravam, se desencontravam.

O Rádio Clube Português chegou a montar estúdio e transmitia programas em directo, e, cada vez que se proporcionava, Vasco Morgado levava até ao Porão alguns dos artistas que tinham acabado de actuar no Monumental: Aznavour, Sammy Davis Jr., Ella Fitzgerald, alguns mais, no Porão marcaram presença.

A frase do anúncio: o local que pode frequentar com sua Exma família, é um achado de non sense.

Poderíamos encontrar famílias a comerem frangos assados no Bom Jardim, ou sardinhas assadas no Oh! Hipólito da Feira Popular, mas tenho sérias dúvidas - não sei, nunca lá entrei! - que alguém levasse a família ao Porão da Nau!

As noites eram abrilhantadas pelo Thilo's Combo, um conjunto sensação na época. 


Vale a pena recordar a história contada por Fernando Rueda, baterista do conjunto, numa entrevista a José Duarte e publicada em Jazzé e Outras Histórias (1):


Em Lisboa conheci o Thilo Krassman. Fomos a Marrocos com um grupo feito à pressa com o Marcial Cal que não tocava nada, nem cantava nenhum, mas tinha muita lata... Nessa época toquei também com o pianista Henrique Peiró, irmão do Angel.


E a Ronda, essa catedral da boémia no princípio dos anos 60?


É a altura do Thilo's Combo, um bom grupo com o Vitor Mamede em saxofone, o Jorginho em piano, o Zé Luís em guitarra ou trombone, o Thilo em baixo e cá o Rueda à bateria...


A seguir fomos inaugurar  O Porão da Nau. Outro sucesso. Mas sabes, o Vitor tinha um bocado coisa de mim... a bateria puxa muito mais aplausos... ele fazia um grande solo mas não havia aquele calor, aquele entusiasmo do publico. O Combo acabou por se desfazer e fiquei no Porão com o meu grupo Rueda + 4... gravámos discos, fomos à televisão...


Hoje, no espaço que foi d' O Porão da Nau, encontra-se a Cervejaria Maracaña, que se estende até à esquina da Pinheiro Chagas com a António Augusto de Aguiar, onde pontificava o Restaurante O Convés.


(1) - José Duarte, Jazzé e Outras Histórias, Edições Cotovia, Junho de 1994.

2 comentários:

Jack Kerouac disse...

Curiosamente, e desconhecendo na altura a história do Porão, foi a primeira discoteca onde eu entrei, eu que nem gostava de dançar e tarde me iniciei nessas lides, fui lá com um amigo para matar a curiosidade sobre esse tipo de locais onde o pessoal ia. Já o Porão era um local meio decadente, só revitalizado com o advento das matinées, tão em voga nos idos de 80 do século passado.

Primrose Lisbon disse...

Bolas, O Porão da Nau foi a primeira "boite" a que fui na minha vida, com um grupo de colegas e amigos, depois de termos jantado no Convés, QUE SAUDADES desse tempo doido mas maravilhoso.