quarta-feira, 12 de junho de 2013

MERCADO COMUM A ÍNDIA DO NOSSO TEMPO


Neste dia, no ano de 1985, Portugal assinava o acordo para a adesão da entrada no país na CEE.

Era primeiro-ministro Mário Soares, Jaime Gama, ministro dos Negócios Estrangeiros e Ernâni Lopes, ministro das Finanças.



Era o culminar de uma longa jornada.


 Não há cenário de alternativa. É por isso que me empenho e com as forças todas que conhecem, na entrada de Portugal na CEE, mas numa entrada de pleno direito.


Palavras de Mário Soares, em 14 de Fevereiro de 1977, antes da partida para uma deslocação charme aos países do Mercado Comum.



Apesar dos avisos dos riscos que o país corria, principalmente na agricultura, nas pescas, na marinha mercante, na construção naval, na indústria têxtil e outras, em 1 de Janeiro de 1986, fazíamos parte das Comunidades Europeias.


Um país descalço e de tanga passava a fazer parte do clube dos ricos.

O orgulho, com que nessa manhã, olhámos o espelho…

Agora que já lá estamos, vamos ter tudo aquilo que desejamos, cantavam os GNR.

O Diário de Lisboa titulava:

Conforme se acredite ou não, assim se parte com entusiasmo ou com temor para esta caminhada.

A quantidade de água que, entretanto, já correu por debaixo das pontes.

A suficiente para sabermos do inferno em que nos metemos da tragédia que nos enlouquece os dias: recordes de desemprego, de endividamento, de gente a passar fome… de descrença.

Mas Mário Soares considerava que a única alternativa para o rato que está nas patas do gato, era deixar-se comer.

Que apoio podíamos esperar de países capitalistas, única e exclusivamente, preocupados com os seus interesses?

A enxurrada de dinheiros europeus que entraram no país, serviu para tudo.




Apostou-se na construção de auto-estradas, (calcula-se que até aos dias de hoje construíram-se 9.468 quilómetros de vias, pontes, rotundas), construíram-se obras de regime, fizemos uma Expo 98, construímos dez estádios de futebol para receberem meia dúzia de jogos do Euro 2004 e agora apenas quatro têm efectiva utilização e os outros serão para implodir, construiu-se um aeroporto em Beja, que custou 33 milhões de euros, e desde que começou a funcionar há dois anos, viu 160 aviões aterrarem e descolarem e um movimento de 5000 passageiros, o Algarve é um imenso campo de golfe completamente às moscas, deixou-se sem qualquer controle os dinheiros entregues para formação em cursos fantasmas que envolveram patrões e sindicatos, membros dos diversos governos, também.



Um fartar vilanagem que fez alastrar, de uma maneira irreparável e escandalosa a pequena e a grande corrupção.

E tudo acaba na maior das impunidades.


O político francês Michel Rocard dizia em 1981 que a CEE não é grande coisa. Existe pouco, é como uma corrente de ar. Abrem-se as portas e deixa-se entrar não importa o quê.

O escritor Augusto Abelaira, também em 1981:

Procurámos viver à custa da India, procurámos viver à custa do Brasil, procurámos viver à custa das colónias, procurámos viver à custa dos emigrantes, e suponho que hoje estamos a procurar viver à custa do Mercado Comum. Mais do que investirmos em Portugal, contamos sempre com qualquer milagre que nos venha de fora. O Mercado Comum é a India do nosso tempo.

Entre 1986 e 2011 entraram em Portugal 81 mil milhões de euros.

O que se fez a todo este dinheiro?

Ninguém consultou os portugueses sobre a adesão à CEE.

Para a assinatura de tratados.

Para aderir à moeda única.

Mas se perguntassem aos portugueses, o que responderiam?

Aqui está uma boa pergunta.

Alguém sabe a resposta?

Legenda: 
Recortes do:
Diário de Lisboa de 14 de Fevereiro de 1977,
O Diário, 19 de Fevereiro de 1977,
Expresso, 12 de Abril de 2008
O Público, 31 de Maio de 2013..

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