PODERÃO DIZER QUE ando
a citar, em demasia, o José Pacheco Pereira, mas não há que fugir:
Uma coisa os professores devem ter
percebido, como os funcionários públicos perceberão, como os estivadores, ou os
trabalhadores dos transportes, já tinham percebido. É que se quiserem resistir
à avalanche que lhes caiu e cai em cima, estão sozinhos. A boca cheia da
solidariedade é apenas isso, mas cada grupo profissional só pode contar consigo
próprio para tentar travar a acentuada desqualificação da sua profissão, o
reforço do autoritarismo de proximidade, de chefes e directores, os
despedimentos colectivos, o aumento por decreto do horário de trabalho, a
violação de todos os contratos e direitos.
Pode contar com a hostilidade de uma
parte da população, acirrada pelos inconvenientes das greves, pelo discurso de
guerra civil do governo e por uma comunicação social que, mesmo quando é muito
da esquerda festiva e cultural, muito simpática com o folclore dos
“indignados”, é hostil às lutas, às greves e aos sindicatos. Um dia, uma
análise do grupo profissional dos jornalistas, explicará muito sobre como as
fraquezas da profissão originam um dos discursos mais masoquistas, muito
próximo do discurso do poder.
A solidão dos que reagem e não se
bastam com manifestações de protesto que a mediatização trivializa, só pode ser
invertida se os seus actos forem corajosos, unidos e massivos no âmbito
profissional. Ou seja, com risco. Se mostrarem força, terão força e arrastarão
consigo solidariedades que nunca terão com protestos “simbólicos”. E terão a
simpatia de muitos que ou são indiferentes ou egoístas, porque, nesse momento,
então sim, as lutas de resistência à iniquidade destes dias de lixo comunicam
entre si. Nessa altura, polícias reconhecer-se-ão nos professores, e pessoal da
CP e da Carris nos polícias, os professores nos estivadores, os funcionários
públicos nos trabalhadores têxteis, os despedidos de uma fábrica nos
reformados, os enfermeiros nos jovens à procura do primeiro emprego e nos
desempregados de longa duração. O mundo do trabalho no mundo do trabalho.
DIFICILMENTE; NESTE PAÍS,
um outro governo conseguirá, numa só semana, levar com uma greve geral e com a
unanimidade do patronato a dizer-lhes, muito clarinho, que são incompetentes.
O ministro da Presidência, Marques Guedes, com
aquele ar de idiota que se lhe conhece desde o dia em que, na Assembleia da
República, sugeriu que os cães, como a crianças, as mulheres, as árvores, etc.,
etc., tivessem o seu dia, disse, a meio da tarde do dia da Greve Geral, no
final da reunião do Conselho de Ministros:
O país não está parado.
Já na véspera, sua excelência o primeiro-ministro,
tinha dito:
O país precisa menos de greves e mais de
trabalho e rigor.
Trabalhadores e patronato dizem, todos os dias, que
o caminho que o governo, prossegue está totalmente errado.
Só as luminárias governamentais, mais o inquilino de
Belém, teimam em dizer o contrário.
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