Sempre entendi a Feira do Livro como uma festa.
Também oportunidade para encontrar, a bons preços,
livros que já temos dificuldade em encontrar nas livrarias, por motivos que só
estão ao alcance do oportunismo de editores e livreiros.
Chamam-lhes fundos de catálogo, ou lá o que é.
Neste aspecto a Relógio d’Agua, mais uma vez, dá uma
banhada à concorrência.
Facilmente manuseados em caixas que mostram os
respectivos preços, estão ali grandes livros, grandes autores, por preços que
vão dos 3 aos 10 euros.
Sou rapaz de livros e petiscos
.
Este ano a mistura é abrangente e espalhada ao longo de todo o recinto: farturas, churros, bifanas, cachorros, caracóis, gelados, cafés, ginjinha.
Espanto-me como ainda não chegaram as roulottes de
sandes de coiratos.
Dêem-lhes tempo…
Como dizia: o poeta: primeiro estranha-se, depois
entranha-se.
Feira do Livro.
Um encontro de cheiros, sejam eles dos petiscos, dos
próprios livros – sempre gostei de cheirar os livros – das flores e árvores do
parque, a despedida, por este ano, dos jacarandás, um deles apanhado em pleno
gozo de sol e que encima o texto.
Neste ano, a Feira regista a presença de 480
editores espalhados por 240 pavilhões. Milhares e milhares de livros que, em
grande parte, não sei a que públicos se destinam, mas editam-se.
Nada melhor para encerrar o dia, que reler um velho
texto que, suponho seja do Fernando Assis Pacheco:
Feira
do Livro.
Pratique
então você, sozinho e em segredo, a sua subversão. Faça uso do seu tempo,
respire fundo, atenda aos seus sentidos, deixe-se apaixonar, ao toque, ao
cheiro, por algum livro antigo, manchado por bolores de anónimos invernos.
Oculto, disfarçado como um tesouro celta, enigmático e no entanto familiar,
está aquele livro que você sempre quis ler ou perdeu em criança e vai encontrar
por escolha sua.
Vá-o
abrindo devagar, desfrute-o como um ser único que lentamente se desvenda e
oferece sucessivas camadas de beleza. Confunda-se com ele, risque, comente,
assinale-lhe no corpo o seu percurso. Use-o, gaste-o, comece-o outra vez. Será
este um prazer de nossos avoengos a quem a vista de um tornozelo de mulher
proporcionava excitações inconcebíveis e a posse de um livro, só por si,
legitimava orgulhos genealógicos.
Boa
Feira e bons encontros.
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