quarta-feira, 5 de junho de 2013

PRÁTICA DEMOCRÁTICA


Recordemos aquelas palavras de Salgado Zenha segundo as quais o dr. Álvaro Cunhal não é um grande especialista na prática democrática…

Pois não, imagine-se. O dr. Álvaro Cunhal nunca teve tempo para especializar-se nisso. Foi toda uma vida com outros companheiros a lutar contra o fascismo…. A fome, a doença, a clandestinidade, a prisão a tortura…

Um tontinho este dr. Álvaro Cunhal. Com uma carreira tão bonita à sua frente… Formado em Direito com a mais elevada classificação, raramente atribuída em Portugal, este homem dava um advogado de respeito. Tinha um mundo a seus pés. Um mundo de palacetes, de conta no banco, de ceias colossais, de perfumes exóticos, de lagosta servida por criados de libré. A sua intervenção, na defesa dos grandes industriais e dos grandes banqueiros, havia de render-lhe milhões e conceder-lhe uma certa disponibilidade e bonomia para se especializar em «prática democrática».

Mas não senhor. Recusou tudo isso. Agora acusam-no de não ser especialista. É bem feito.
(Não, não foi nada. Fui eu que sorri, de tristeza).

Mário Castrim no Canal da Crítica, publicado no Diário de Lisboa de 6 de Dezembro de 1977.

Legenda:da Colecção de Desenhos da Prisão de Álvaro Cunhal.

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