Recordemos
aquelas palavras de Salgado Zenha segundo as quais o dr. Álvaro Cunhal não é um grande
especialista na prática democrática…
Pois
não, imagine-se. O dr. Álvaro Cunhal nunca teve tempo para especializar-se
nisso. Foi toda uma vida com outros companheiros a lutar contra o fascismo…. A fome,
a doença, a clandestinidade, a prisão a tortura…
Um
tontinho este dr. Álvaro Cunhal. Com uma carreira tão bonita à sua frente…
Formado em Direito com a mais elevada classificação, raramente atribuída em
Portugal, este homem dava um advogado de respeito. Tinha um mundo a seus pés.
Um mundo de palacetes, de conta no banco, de ceias colossais, de perfumes
exóticos, de lagosta servida por criados de libré. A sua intervenção, na defesa
dos grandes industriais e dos grandes banqueiros, havia de render-lhe milhões e
conceder-lhe uma certa disponibilidade e bonomia para se especializar em
«prática democrática».
Mas
não senhor. Recusou tudo isso. Agora acusam-no de não ser especialista. É bem
feito.
(Não,
não foi nada. Fui eu que sorri, de tristeza).
Mário Castrim no Canal da Crítica,
publicado no Diário de Lisboa de 6 de Dezembro de 1977.
Legenda:da Colecção de Desenhos da Prisão de
Álvaro Cunhal.
Sem comentários:
Enviar um comentário