sábado, 29 de junho de 2013

QUASE UMA FÁBULA


O homem chegou-se ao pé de mim e perguntou-me, depois de tocar com dois dedos a aba do chapéu:
- Sabe dizer-me o nome desta rua.

Era a Fontes Pereira de Melo.

- O senhor não se importava, era capaz de me escrever isso num papel?

Escrevi na folha arrancada ao caderno de apontamentos: AVENIDA FONTES PEREIRA DE MELO. Enquanto escrevia, o homem contava. Tinha vindo da terra para uma consulta aos olhos e o hospital era ali em baixo. Mas agora estava fechado, de maneira que tinha de voltar noutra altura.

Ele falava, eu escrevia. Numa folha branca. Duas mãos terrosas dobraram a folha em em duas. Dobraram a folha em quatro.

Findo o que o homem me perguntou:

- Diz-me quanto lhe devo pelo seu trabalho?

Caramba! Isto está muito pior do que eu pensava.


Mário Castrim

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