sexta-feira, 16 de agosto de 2013

E TUDO SERÁ LUZ


Há uma semana, Urbano Tavares Rodrigues deixou-nos.

É norma dizer-se que parte o homem mas fica a obra.

Sim, a variada obra de Urbano está aí, uma obra que nos anos 50/60, no dizer de Mário Cláudio, foi uma lufada de ar fresco na literatura portuguesa, mas fica a faltar-nos o homem. Esse homem afável e tolerante, a sua delicadeza, a sua integridade, aquela voz pausada, um homem que viu a ditadura de Salazar/Caetano privá-lo do que mais gostava de fazer na vida: ser professor.

Ainda Mário Cláudio: alguém de quem se dizia bem em vida – o que não é habitual entre nós –, não só como escritor mas também no plano cívico. Nunca usou o seu posicionamento político, que era bem conhecido, para fazer qualquer espécie de segregacionismo. Há melhor? Não há. Parecido? Também não. Quase não se acredita que fosse português. Mas era. Por isso, nem toda a esperança está perdida.

É isto que nos fica a faltar, algo mais.

Em Outubro do ano passado, numa entrevista ao Ipsilon, suplemento do Públio, dizia que o sentido da sua vida era um misto de tolerância, de compreensão e respeito pelos outros. Um homem sem ódios mas, com algumas excepções.

Posso sentir ódio contra aqueles que vivem de explorar os outros... mas eu tenho sido mais vítima de ódio. Ainda não tive o prémio Camões porque soube recentemente que há membros do júri que dizem: "esse comunista não terá o Prémio Camões.

A jornalista pergunta-lhe se sente mágoa por não ter ganho o Prémio Camões.

Tenho revolta. Mereço amplamente o Prémio Camões. Não é pelas honrarias, que já tive muitas. Até em França já me deram a Legião de Honra, mas isto é asqueroso.

Já deixara o mesmo desabafo numa  entrevista ao Manuel Rodrigues da Silva.

José Saramago, em Fevereiro de 2003, escrevia-lhe dizendo que com atraso também te há-de ser entregue o “Camões”.

Não aconteceu.

O editor Manuel Alberto Valente foi claro:

 Julgo que Portugal não lhe prestou a merecida homenagem em vida e espero que agora se lembre de lha prestar. Enquanto isso, espero que as pessoas o possam homenagear lendo os seus livros.

Até ao final do ano, a Dom Quixote que, desde 2007 tem vindo a publicar toda a obra de Urbano Tavares Rodrigues, colocará nos escaparates o seu último livro: Nenhuma Vida, um curto romance com um prefácio, escrito pelo próprio Urbano, em que se sente já a sua despedida do mundo, de todos nós.

Daqui me vou despedindo, pouco a pouco, lutando com a minha angústia e vencendo-a, dizendo um maravilhado adeus à água fresca do mar e dos rios onde nadei, ao perfume das flores e das crianças, e à beleza das mulheres. Um cravo vermelho e a bandeira do meu Partido hão-de acompanhar-me e tudo será luz.

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