domingo, 25 de agosto de 2013

O EDUARDO


Quando neste dia, no ano de 2007, Eduardo Prado Coelho morreu, tinha 63 anos.

Em miúdo preenchia caderdinhos com frases que achava fundamentais para a vida.

No decorrer dessa vida, diziam: Citas muito.

O Eduardo, no seu Tudo o Que Não Escrevi, explicou:

Sempre foi assim. Como explicar? Não se trata do uso de argumentos de autoridade, nem de exibicionismo cultural. Mas incomoda, eu sei e permite que se insinue que se não pensa pela própria cabeça, ou que se vive alimentado pelas modas «que vêm do estrangeiro»
.
Gostaria de tornar bem claro como o gosto da citação tem a ver com um amor intenso das palavras. Por vezes, citação que excita pela convicção de que alguém encontrou um dia as palavras certas - isto é, os nomes próprios - para dizer algo que em nós foi expressão confusa e enrodilhada. Aqui a citação tem um efeito de evidência. Que é sempre, acreditem, motivo de júbilo.

Por outro lado, a citação é um incitamento. Porque retirar as palavras de um contexto ( a citação faz um desvio) é criara em torno delas um halo de silêncio, um anel de referências implícitas, que , que abre o espaço para dizer mais. O espaço off de uma citação é um convite para se pensar. A citação condensa, mas ao mesmo tempo indecide - efeito de descontextualização.

Resta o argumento mais pessoal, quase íntimo: sempre vivi entre palavras, através dos textos que escrevi sobre os textos dos outros, e as citações são o material que me habituei a trabalhar. Poderei chamar a isto efeito de montagem?

Pequeno exercício quotidiano: ler freses desgarradas, soltá-las arbitrariamente do texto. Isto é, abrir um livros ao acaso, num sinal vermelho, antes de o filme começar, durante os anúncios na televisão, e escolher à toa algumas palavras. Sempre pensei que, numa dessas frases, chegaria a verdade, o encontro decisivo. Uns jogam na lotaria, outros nas palavras.

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