O Chiado existe.
Não aquele que as minhas pernas percorreram durante anos e
anos.
Sempre foi um momento especial subir-descer-o-Chiado.
Parar na Bertrand,
na Sá da Costa, na Portugal, na Lello, na Discoteca do Carmo, na Universal, na
Melodia, na Valentim de Carvalho.
Olhar a Brasileira
mas preferir beber a bica na Leitaria Garrett, drops da Heller na Jerónimo
Martins, facas na José Alexandre.
Um pavoroso incêndio, faz hoje 25 anos, destruíu esse Chiado.
O fogo da incúria,
da irresponsabilidade do passa-culpas.
Mário-Soares-presidente
a perguntar a Eurico-de-Melo-ministro-da-administração-interna: onde é que estão os meios aéreos, sr.
Ministro, o ministro a culpar as obras que o presidente-da-câmara-Krus-Abecasis
mandara, em 1985, fazer na Rua do Carmo - bancos de jardim, canteiros de árvores e
flores.
Cavaco-Silva-primeiro-ministro,
obrigado a interromper as férias no Algarve, donde saíu de
automóvel-batedotes-da-gnr-à-frente-estridentes-sirenes, às 09,30 tendo chegado, já em tempo
de rescaldo, às 11,00 horas.
Duas mil pessoas que
perderam o seu posto de trabalho.
Prejuízos
incalculáveis.
Krus-Abecasis-eloquente:
Lisboa renasce sempre e voltará a renascer,
a vida continua.
Um desesperado título de A Capital: Nada será como dantes.
Passaram vinte e
cinco anos.
O projecto de
recuperação do Chiado, concebido por Siza Vieira, ainda está por completar.
Muita obra já foi
feita.
Os olhos não se
habituam a olhar o que foi renascendo,
O desabafo de um comerciante:
o negócio era bem melhor antes do
incêndio.
Subir-descer-o-Chiado
deixou de ter aquele perfume de momento especial.
Era quinta-feira, uma
madrugada quente de Agosto, quando o Chiado foi pasto das chamas.
Ainda uma grande
tristeza, uma melancolia incurável.
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