domingo, 25 de agosto de 2013

UMA RECUPERAÇÃO MUITO LENTA


O Chiado existe.

Não aquele que as minhas pernas percorreram durante anos e anos.

Sempre foi um momento especial subir-descer-o-Chiado.

Parar na Bertrand, na Sá da Costa, na Portugal, na Lello, na Discoteca do Carmo, na Universal, na Melodia, na Valentim de Carvalho.

Olhar a Brasileira mas preferir beber a bica na Leitaria Garrett, drops da Heller na Jerónimo Martins, facas na José Alexandre.

Um pavoroso incêndio, faz hoje 25 anos, destruíu esse Chiado.

O fogo da incúria, da irresponsabilidade do passa-culpas.

Mário-Soares-presidente a perguntar a Eurico-de-Melo-ministro-da-administração-interna: onde é que estão os meios aéreos, sr. Ministro, o ministro a culpar as obras que o presidente-da-câmara-Krus-Abecasis mandara, em 1985, fazer na Rua do Carmo -  bancos de jardim, canteiros de árvores e flores.

Cavaco-Silva-primeiro-ministro, obrigado a interromper as férias no Algarve, donde saíu de automóvel-batedotes-da-gnr-à-frente-estridentes-sirenes, às 09,30  tendo chegado, já em tempo de rescaldo, às 11,00 horas.

Duas mil pessoas que perderam o seu posto de trabalho.

Prejuízos incalculáveis.

Krus-Abecasis-eloquente: Lisboa renasce sempre e voltará a renascer, a vida continua.

 Um desesperado título de A Capital: Nada será como dantes.

Passaram vinte e cinco anos.

O projecto de recuperação do Chiado, concebido por Siza Vieira, ainda está por completar.

Muita obra já foi feita.


 O Chiado apresenta-se com um bom ar mas, irremediavelmente, perdeu aquela patine.

Os olhos não se habituam a olhar o que foi renascendo,

O desabafo de um comerciante: o negócio era bem melhor antes do incêndio.

Subir-descer-o-Chiado deixou de ter aquele perfume de momento especial.

Era quinta-feira, uma madrugada quente de Agosto, quando o Chiado foi pasto das chamas.

Ainda uma grande tristeza, uma melancolia incurável.

Sem comentários: