quinta-feira, 22 de agosto de 2013

O VENTO IMPREGNADO DE CHEIRO A SALITRE


Max lera uma vez num dos livros do pai que certas imagens da infância ficam gravadas no álbum da mente como fotografias, como cenários aos quais, passe o tempo que passar, voltamos sempre e recordamos. Compreendeu o sentido daquelas palavras a primeira vez que viu o mar. Seguiam há mais de cinco horas no comboio quando, de repente, ao emergir de um escuro túnel, uma infinita lâmina de luz e claridade espectral se estendeu diante dos seus olhos. O azul-eléctrico do mar resplandecente sob o sol do meio-dia gravou-se na sua retina como uma aparição sobrenatural. Enquanto o comboio seguia o seu caminho a poucos metros do mar, Max pôs a cabeça fora da janela e sentiu pela primeira vez na pele o vento impregnado de cheiro a salitre. Voltou-se para olhar o pai, que o observava do extremo da carruagem co comboio com um sorriso misterioso, aquiescendo a uma pergunta que Max não chegara a formular. Soube então que não importava qual fosse o destino daquela viagem nem em que estação pararia o comboio; a partir daquele dia, nunca viveria num lugar de onde não pudesse ver todas as manhãs ao acordar aquela luz azul e deslumbrante que subia até ao céu como um vapor mágico e transparente. Era uma promessa que fizera a si mesmo.

Carlos Ruiz Zafón em O Príncipe da Neblina Planeta. Lisboa 2010

Legenda: não foi possível identificar o autor/origem da fotografia.

Sem comentários: