Max
lera uma vez num dos livros do pai que certas imagens da infância ficam
gravadas no álbum da mente como fotografias, como cenários aos quais, passe o
tempo que passar, voltamos sempre e recordamos. Compreendeu o sentido daquelas
palavras a primeira vez que viu o mar. Seguiam há mais de cinco horas no
comboio quando, de repente, ao emergir de um escuro túnel, uma infinita lâmina
de luz e claridade espectral se estendeu diante dos seus olhos. O azul-eléctrico
do mar resplandecente sob o sol do meio-dia gravou-se na sua retina como uma
aparição sobrenatural. Enquanto o comboio seguia o seu caminho a poucos metros
do mar, Max pôs a cabeça fora da janela e sentiu pela primeira vez na pele o
vento impregnado de cheiro a salitre. Voltou-se para olhar o pai, que o
observava do extremo da carruagem co comboio com um sorriso misterioso,
aquiescendo a uma pergunta que Max não chegara a formular. Soube então que não
importava qual fosse o destino daquela viagem nem em que estação pararia o
comboio; a partir daquele dia, nunca viveria num lugar de onde não pudesse ver
todas as manhãs ao acordar aquela luz azul e deslumbrante que subia até ao céu
como um vapor mágico e transparente. Era uma promessa que fizera a si mesmo.
Carlos Ruiz Zafón em O Príncipe da Neblina Planeta. Lisboa 2010
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