Lisboa a 24 Imagens
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Coordenação de
Manuel Costa e Silva
Capa: José
Serrão
Editorial
Caminho, Lisboa, Outubro de 1994
Longe, longe, no nevoeiro da infância, vejo-me uma
noite com o meu pai num cinema de esplanada, rodeado de água e de escuridão.
Chamava-se Ilha Flutuante nº 1 (um cinema com um nome destes nunca mais se pode
esquecer) e ficava num lago artificial ao fundo daquilo que hoje é o Parque
Eduardo VII.
Foi a primeira vez que vi um filme, essa coisa tão
misteriosa e tão dominadora que apagava tudo à volta, rostos, tempo e cidade, e
que depois nos ficava em sonho vivo a repetir-se na memória. Como era uma fita
estrangeira e eu ainda mal sabia ler para acompanhar as legendas, contei-a
depois aos meus primos em várias versões muito minhas onde metia Lisboa e
personagens conhecidas.
Só anos mais tarde, com a entrada para o liceu e com o
primeiro cigarro comprado avulso no quiosque da Estefânia, comecei a ir ao
cinema por conta própria, tu~cá, tu-lá com o Tio Mácoi, o Buque Jones e outros
cowboys justiceiros que vinham a galope do Far West até às últimas matinés no
Pathé, na Rua Francisco Sanches, ou do Central e do Olímpia no Meridiano dos
Restauradores. A seguir foi a idade dos gangsters e do macabro, James Cagney e
Boris Karloff com Frankenstein pelo meio, e, mais ou menos na mesma altura, a
Nova Iorque dos rapazes maus, Jackie Cooper, Mickey Rooney e Companhia.
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