1.
A janela de ontem debruçava-se sobre a intenção de os senhores bispos pretenderem fiscalizar os actos do novo governo.
Uma parceria entre o “Canal Q” e o jornal “I”, coisas de letras, coisas da IOL.pt iniciou-se com uma entrevista a Mário Soares. É-lhe perguntado:
“Sendo agnóstico, fez algumas alianças com a Igreja em momentos difíceis...
Mais do que alianças, conspiração. Eu conspirei activamente, posso dizê-lo hoje, com D. António Ribeiro.
Se todos os párocos não tivessem dito nas igrejas que seria bom que todas as pessoas fossem para Fonte Luminosa, não teríamos tido aquela manifestação que derrubou, no fundo, o caminho para que se estava a dirigir o país.”
Claro que destas conspirações, há muito se sabia, também as conspirações com o embaixador americano Frank Carlucci que, na semana passada veio a Lisboa tomar chá com Mário Soares e recordar velhos tempos.
Mas ouvido, muito claramente, pelo próprio conspirador, tem um outro impacto…
Já não vou a tempo de ver, mas um dia se fará a história de quem, logo após os primeiros tempos de Abril. opôs resistência, quem vacilou, quem colaborou, quem traiu.
De nenhum acto, nenhuma palavra, nenhum nome, a história se esquecerá.
Não verei, mas estou certo que será assim!
2.
Números nunca foram comigo.
Fico basbaque a ouvir, a ler os comentaristas das economias e das finanças. Tanta sabedoria, deuses meus…
Hoje, o “Correio da Manhã”, publica uma entrevista com João Duque, entre outras coisas, Presidente do ISEG, e que, ainda há mão muito tempo, juntamente com Medina Careira, perorava na SIC sobre, e contra, a populaça.
Afirma Duque:
“Portugal vai ter de reestruturar a dívida. E temos de mudar o paradigma produtivo. Basta olhar para o discurso do senhor Presidente da República sobre a agricultura. Nós hoje temos défice na balança comercial de bens alimentares. E, como as coisas estão, se ficarmos sem dinheiro, temos pelo menos de ter comida. Podemos renegociar os prazos, dando um pequeno benefício ao mercado.”
Devagarinho os crânios chegam lá, só que quando isso acontece, já é tarde demais…
Hélas!
3.
Amanhã ocorrerá um novo eclipse da lua e, se as condições meteorológicas assim o permitirem, Portugal vai poder assistir ao fenómeno a partir das 20h58, em Lisboa, hora em que ocorre o nascimento da Lua.
Penso que, ao falar de luas e seus eclipses, não ficará mal colocar uma “Lua Adversa”, da poetisa brasileira Cecília Meireles:
“Tenho fases, como a lua,
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.
Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.
E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...).
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...”
Legenda: Títulos do “Diário de Lisboa” de 14 de Maio e de 7 de Novembro de 1974.
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