sexta-feira, 10 de junho de 2011

JANELA DO DIA



10 de Junho
Hoje, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas
Antes, Dia da Raça.
O 25 de Abril deveria ter banido este feriado do calendário.


Há obviamente algo de incómodo nesta data.
A ditadura aproveitava-a  para nefasta propaganda: Terreiro do Paço, parada militar, fanfarra aparatosa, toques de silêncio, entrega de medalhas a militares por feitos valiosos, medalhas, a título póstumo entregues, a pais, viúvas, filhos, muitos ainda crianças, transmissão em directo pela R.T.P.


Um espectáculo indecoroso.
Banir a data não cura memorias que doem, memórias que não queremos esquecer, ummundo sem saída para milhares de portugueses que nela combateram, os que não puderam regressar, os que continuam prisioneiros de uma guerra infame – mutilados, loucos.



“A realidade da guerra está aqui, em bruto, mas está, nestas fotos, mesmo quando quem se deixa fotografar tem a rigidez voluntária e assumida de uma posse.
Prefiro, no entanto, as outras, as outras fotos, aquelas que fixam os que não sabiam que estavam a ser fotografados, pensava-se em tanta coisa, menos que um dia o nosso rosto anónimo iria assim fazer a História.
Como o rosto deste soldado que sobe para o portaló do navio. Apanhado a meio, entre a terra firme de uma Lisboa que deixa para trás e esse destino balouçante que o há-de levar a uma África que não sabe o que é, ele olha ainda para alguém que ficou no cais. E sorri-lhe pela última vez? Que é feito deste rosto de inocência? Que é feito da inocência deste rosto?
O navio afasta-se, perpendicular à terra, vai daí a nada rumar ao Bugio, à barra, ao fim do Império.”

 Rodrigues da Silva, “Adeus Até Ao Meu Regresso”

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