1.
No 5º volume dos seus “Dias Comuns”, José Gomes Ferreira aborda as eleições francesas realizadas em Junho de 1968, derrota da esquerda, vitória de De Gaulle a tentar colmatar a ruptura do sistema neo-capitalista.
Desânimo na tertúlia do “Palladium”:
"- Muitos votaram por medo… disse não-sei-quem.
- O medo é a medida da realidade… declamou o Augusto Abelaira.”
O medo há-de ter tudo, como profetizava o Alexandre O’ Neill, e é exactamente isso o que medo quer.
2.
O Presidente Cavaco Silva deu ordem ao Ministério Público para instaurar um processo crime contra o director da revista “Sábado”, por considerar que este ofendeu a sua honra num comentário que escreveu na coluna Sobe e Desce do passado dia 27 de Janeiro.
“Miguel Pinheiro escreveu: "Tal como Fátima Felgueiras e Isaltino Morais, Cavaco Silva acha que uma vitória eleitoral elimina todas as dúvidas sobre negócios que surgem nas campanhas".
As verdades custam sempre a ouvir…
Aparentemente, Sua Excelência não tem mais que fazer do que processar jornalistas.
As verdades custam sempre a ouvir…
É sabido que o ridículo não mata…
3.
Para atenuar a cavaquice, socorro-me de Mário Dionísio, o poema LXI em “Terceira Idade”:
“País de azulejos partidos
de erva trepando entre paredes em ruína
País entregue à sua sina
sem olhos e sem ouvidos
País voraz ruminando o almoço
rindo ou chorando uncapaz de sorrir
País de corpo aberto a quem está a seguir
País do rastejar entre a pele e o osso
Pulinhos para trás e para a frente
de polegar na cava do colete
foguetes procissões uns copos de palhete
país da pequenez de si mesma contente
País indiferente aos que dão por ele a vida
País herói se não há perigo em sê-lo
País de velhos do Restelo
dado à mão-baixa perto e consentida
País que tudo quer e nada quer tudo suporta
País do faz como vires fazer
País do quero lá saber
do quem vier depois que feche a porta”
de erva trepando entre paredes em ruína
País entregue à sua sina
sem olhos e sem ouvidos
País voraz ruminando o almoço
rindo ou chorando uncapaz de sorrir
País de corpo aberto a quem está a seguir
País do rastejar entre a pele e o osso
Pulinhos para trás e para a frente
de polegar na cava do colete
foguetes procissões uns copos de palhete
país da pequenez de si mesma contente
País indiferente aos que dão por ele a vida
País herói se não há perigo em sê-lo
País de velhos do Restelo
dado à mão-baixa perto e consentida
País que tudo quer e nada quer tudo suporta
País do faz como vires fazer
País do quero lá saber
do quem vier depois que feche a porta”
4.
Da correspondência de Sophia Mello Breyner Andresen. para Jorge de Sena:
“Valerá a pena você gastar tanta inteligência para explicar aos parvos que são parvos?”
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