A páginas 148 de A Sombra do Vento de Carlos Ruiz
Zafón, alguém observa: por que se queimam os livro? Por estupidez,
por ignorância, por ódio… vá-se lá saber.
Num livro de Andrew Walker, sobre o julgamento de Nuremberga,
um dos factos a que se aludiu no julgamento foi a queima por soldados e
oficiais alemães da biblioteca de Tolstoi para se aquecerem. Quando alguém
objectou, um oficial alemão respondeu que gostava de se aquecer à luz da literatura russa.
Corria o ano de 2010 quando os jornais noticiaram o que de
há muito se sabia ser prática regular e
generalizada de algumas editoras que, por falta de espaço para armazenamento,
também pelos custos desse espaço, destruíam livros.
Foi o caso que o grupo editorial Leya acabara de guilhotinar
dezenas de milhares de exemplares de 96
títulos de diversos autores, entre eles livros de Eugénio d’Andrade, Jorge de
Sena, Vasco da Graça Moura, Maria Teresa Horta.
Um director do grupo apressou-se a dizer que os livros não tinham
ido para o lixo, foram destruídos para reciclagem, para obter papel.
Gabriela Canavilhas era ao tempo ministra da cultura do
governo de José Sócrates e chamou-lhe um massacre prometendo envidar
esforços para que, a curto prazo, fossem
encontradas soluções tal crime.
Faltavam escassos dias para o Natal de 2012, quando mão
amiga me enviou uma mensagem que, enrtetanto, recebera
do jornalista Joaquim Vieira:
As editoras Círculo de Leitores
e Bertrand comunicaram-me que vão destruir sobras de alguns livros de que fui
autor ou que dirigi, pertencentes às colecções Portugal Século XX e Crónica em Imagens e Fotobiografias do
Século XX.
Os títulos são os seguintes:
- Fotobiografia de Fernando
Pessoa (texto de Richard Zenith)
- Fotobiografia de Amadeo
de Souza-Cardoso (texto de Margarida
Magalhães
Ramalho e Margarida Cunha
Belém)
- Fotobiografia de Amália Rodrigues (texto de Cristina Faria)
- Fotobiografia de Amélia Rey Colaço (texto de Júlia Leitão de Barros)
- Fotobiografia de Vasco Santana
(texto de Luís Trindade)
- Fotobiografia de Joshua Benoliel (texto meu)
- Portugal Século XX - Anos 40 (texto meu)
- Portugal Século XX - Anos
50 (texto meu)
- Portugal Século XX - Anos
60 (texto meu)
- Portugal Século XX - Anos 70
(texto meu)
O preço de mercado destes livros, com 200 páginas cada (216 no caso do
Portugal Século XX), capa dura, sobrecapa, formato de 30 cm x 24 cm, papel
couché, amplamente ilustrados, é de 35 euros.
As duas editoras deram-me a opção de adquirir os exemplares para abate
a um valor muito baixo, e, porque me custa assistir à destruição de livros,
resolvi adquirir algumas quantidades e disponibilizá-los a quem os quiser
adquirir ao preço de 6 euros cada.
Lembrei-me de que, nos tempos que atravessamos, estes livros podem ser
interessantes prendas de Natal adquiridas a muito baixo custo.
.
Não tenho qualquer notícia das soluções governamentais
encontradas, se é que as houve, para evitar a destruição de livros.
Nunca entendi muito bem por que o governo não adquire os livros em vias de destruição, a preços razoáveis e os envia para escolas, hospitais,
prisões, outras instituições.
Contudo, é gratificante saber dos cuidados de Joaquim Vieira
em encontrar um final feliz para os livros que orientou, escreveu e estavam em
vias de destruição.
Grande parte destes livros sempre os quis adquirir, mas
encontravam-se em patamares fora do orçamento familiar.
Agora, imaginem o brilho dos meus olhos naquele Natal de
2012.
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