O livro, no bom dizer do saudoso editor Manuel Hermínio
Monteiro deve conter a própria vida dos que com ele lidam quotidianamente.
Sou do tempo em que os livros estavam ao cuidado de gente
culta.
Orgulhosamente profissionais, livreiros e editores sabiam o
que tinham entre mãos.
Com a chamada globalização, os livreiros foram substituídos
por computadores e os grandes grupos editoriais como a Leya, Porto Editora, Bertrand &Cª Lda, desataram a comprar pequenas e
grandes editoras, não com o objectivo de as valorizar mas para, simplesmente,
ganharem algo com o negócio.
Por exemplo, Miguel Pais do Amaral, um empresário de tudo e
mais alguma coisa, constituiu a Leya e comprou, entre outras
pequenas editoras, as Publicações Dom Quixote e a Editorial Caminho que têm nos seus
catálogos diversos escritores portugueses e jóias da coroa como António Lobo
Antunes, e José Saramago.
Numa entrevista à Notícias Sábado, Fevereiro de 2010:
Os carros são o meu hobby, é algo que me acompanha desde sempre. Em
termos competitivos, fui evoluindo aos poucos e agora isto é o máximo. O prazer
de correr é único e sinto-me um privilegiado.
Pierre Bourdieu, citado por Arnaldo Saraiva disse que o
editor é um personagem duplo que deve saber conciliar a arte e o dinheiro.
Claro que é possível gostar de carros e de livros ou, como
na aldeia de Asterix, ser-se bárbaro e gostar de flores, mas não é o caso do
personagem que presidencialmente se senta numa cadeira do edifício Leya.
Mário de Carvalho, durante muitos anos editado pela Caminho,
em 2012 abandonou o grupo Leya pois não estava sujeito a que
tivessem demorado três anos para saber quem ele era.
Acho que quem sabe de livros, deve fazer livros, quem sabe de cervejas
ou de sabonetes deve tratar de cervejas ou de sabonetes…
Quarta-feira ficámos a saber que José Saramago não volta a ser publicado pela Leya.
Não se conhecem os
contornos da decisão, apenas se sabe que chegou ao fim uma relação editorial iniciada
há 35 anos, com a publicação de A Noite.
A posição da Leya surge depois de uma das
editoras do grupo a Editorial Caminho, ter anunciado deixar de publicar as obras de
José Saramago, por falta de acordo com as herdeiras do Nobel da Literatura.
As herdeiras de José Saramago e a Editorial Caminho informam que não
foi possível chegar a acordo sobre as condições contratuais que permitiriam
continuar a publicar nesta editora a obra do escritor, lê-se num
comunicado assinado pelas herdeiras do escritor, a viúva, Pilar del Rio, e a
filha, Violante Saramago Matos, e ainda por Tiago Morais Sarmento e Zeferino
Coelho, da Editorial Caminho.
José Sucena,
administrador da Fundação José Saramago
já tornou público que a instituição está a fazer diligências no sentido de encontrar uma editora que sirva a Saramago e
a quem Saramago sirva, e avançou a hipótese de, caso não seja
encontrada uma editora, ser a própria fundação e editar os livros de José
Saramago
Almeida Faria, João Tordo, José Eduardo Água Lusa, Ricahrd Zimler, João Tordo, os herdeiros de
Sophia Mello Breyner Andresen, o anteriormente citado Mário de carvalho, já
abandonaram a Leya.
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