O militante
comunista Francisco Miguel deixou escrito:
Nunca me conformei
com a ideia de que haja alguma prisão absolutamente invulnerável.
Quando presos, a
preocupação da fuga era uma constante. Escapar da prisão era um dos requisitos
e uma das tarefas que o Partido Comunista atribuía aos seus militantes.
Se bem que
projectados cuidadosamente, cerca de três quartos dos planos de fuga não
resultaram. Resta um quarto desses planos e nesse número estão as Fugas de
Peniche: uma em 3 de Janeiro de 1960, outra em Dezembro de 1961
Álvaro Cunhal chegou
a Peniche no Verão de 1956.
Em Janeiro de 1960,
juntamente com outros camaradas de Partido, Carlos Costa, Francisco Miguel,
Guilherme Carvalho, Jaime Serra, Joaquim Gomes, José Carlos, Pedro Soares,
Rogério de Carvalho e Francisco Martins Rodrigues, saltou as muralhas
A operação de fuga
começou a desenrolar-se ao som da 6ª Sinfonia de Tchaikovsky.
A Patética tocava
num gira-discos que os guardas tinham autorizado Humberto Lopes a utilizar na
sua cela numa conjuntura de descompressão da disciplina prisional. (1).
Dentro do Forte, a
fuga contou com a colaboração de Jorge Alves, guarda da GNR.
Como não tinha
quaisquer convicções políticas o Partido ofereceu-lhe 200 contos, para a época uma
pequena fortuna, e foi isso que o fez colaborar.
Meu amigo isto é dinheiro
da calasse operária e dinheiro que custou muito aos trabalhadores. Está todo
nas suas mãos. Esperamos que você mereça a confiança que depositamos em si.
Segundo José Pacheco
Pereira, o principal factor de sucesso
fora a capacidade de preparação minuciosa dos militantes presos e a sua coragem
e sangue-frio face a todas adversidades. Mesmo
que, por qualquer motivo, a fuga tivesse sido abortada na sua segunda fase – o
trajecto para os esconderijos na zona de Lisboa –, nem por isso deixaria de
poder ser considerada um enorme sucesso político para o PCP e um momento alto
contra o regime de Salazar. Poucas fugas de carácter político se lhe podem
comparar, mesmo incluindo as mais célebres fugas ocorridas durante a II Guerra
Mundial. Na história do movimento comunista, é um acontecimento ímpar. (2).
Fontes:
(1) Álvaro
Cunhal, Retrato Pessoal e Íntimo, Adelino Cunha, A Esfera dos Livros, Lisboa
Novembro de 2010.
(2) Álvaro
Cunhal, Uma Biografia Política, 3º volume, Temas & Debates, Lisboa Novembro
de 2005..
Abandono
Poema de David-Mourão Ferreira
Música: Alain Oulman
Abandono
Poema de David-Mourão Ferreira
Música: Alain Oulman
Por teu livre
pensamento
Foram-te longe
encerrar
Tão longe que o meu
lamento
Não te consegue
alcançar
E apenas ouves o
vento
E apenas ouves o
mar
Levaram-te a meio
da noite
A treva tudo cobria
Foi de noite numa
noite
De todas a mais
sombria
Foi de noite, foi
de noite
E nunca mais se fez
dia.
Ai! Dessa noite o
veneno
Persiste em me
envenenar
Oiço apenas o
silêncio
Que ficou em teu
lugar
E ao menos ouves o
vento
E ao menos ouves o
mar.
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