domingo, 19 de janeiro de 2014

NOTÍCIAS DO CIRCO


Há semanas com dias em cheio, ou como lhe chamou o Expresso, eufóricos:

Gaspar o ex-ministro das finanças que nos empurrou para o patamar onde , a tudo o custo, tentamos sobreviver,  com o apoio da Merkel vai para o FMI, o ex-ministro da economia, o Álvaro, vai para a OCDE, José Luís Arnaut vai para a Goldman Sachs.

Bagão Félix volta e meia  lembra-nos que melhor do que ser ministro é ser ex-ministro, Pedro Santos Guerreiro atalha melhor do que ser ministro é trabalhar com bancos que trabalham com ministros.

O escritório de advocacia de José Luís Arnaut tem estado em todas as privatizações que o governo tem vindo a despachar: EDP, REN,, ANA, CTT, também a da TAP, que não teve pernas para andar, mas logo se verá.

O governo, depois de chamar nomes feios à Goldman Sachs, acaba de a contratar para assessorar a dívida pública.

De imediato, a Sachs assobia a Arnaut para que ocupe um lugar de topo na empresa, um lugar deixado vago por Mario Monti, ex-primeiro ministro italiano e antigo comissario europeu.

O tio do sr. Edson Athaide dizia que um homem que não se deixa subornar não é de confiança, ao passo que o escritor Eugénio Lisboa, escrevia no último JL que a corrupção em Portugal, tem uma característica distintiva: é totalmente descarada e primária.

Ângela Silva, jornalista do Expresso lembra que Arnaut sabe gerir influências e tirar partido delas e com Nuno Morais Sarmento e Miguel Relvas formou durante anos o núcleo duro do barrosismo. Hoje, curiosamente, todos trocaram a política pelos negócios.

O puto, entre duas colheradas de Nestum: mamã,  quando eu crescer posso ser corrupto?

No limiar do vómito e, porque isto anda tido ligado, socorro-me de um poema de José Miguel Silva cujo título diz tudo: Feios, Porcos e Maus:

Compram aos catorze a primeira gravata
com as cores do partido que melhor os ilude.
Aos quinze fazem por dar nas vistas no congresso
da jota, seguem a caravana das bases, aclamam
ou apupam pelo cenho das chefias, experimentam
o bailinho das federações de estudantes.
Sempre voluntariosos, a postos sempre,
para as tarefas de limpeza após combate.
São os chamados anos de formação. Aí aprendem
a compor o gesto, a interpretar humores,
a mentir honestamente, aí aprendem a leveza
das palavras, a escolher o vinho, a espumar
de sorriso nos dentes, o sim e o não
mais oportunos. Aos vinte já conhecem
pelo faro o carisma de uns, a menos valia
de outros, enquanto prosseguem vagos estudos
de Direito ou de Economia. Começam, depois
disso, a fazer valer o cartão de sócio: estão à vista
os primeiros cargos, há trabalho de sapa pela frente,
é preciso minar, desminar, intrigar, reunir.
Só os piores conseguem ultrapassar esta fase.


Há então quem vá pelos municípios, quem prefira
os organismos públicos — tudo depende do golpe
de vista ou dos patrocínios que se tem ou não.
Aos trinta e dois é bem o momento de começar
a integrar as listas, de preferência em lugar
elegível, pondo sempre a baixeza em cima de tudo.


A partir do Parlamento, tudo pode acontecer:
director de empresa municipal, coordenador de,
assessor de ministro, ministro, comissário ou
director-executivo, embaixador na Provença,
presidente da Caixa, da PT, da PQP e, mais à frente
(jubileu e corolário de solvente carreira),
o golden-share de uma cadeira ao pôr-do-sol.
No final, para os mais obstinados, pode haver
nome de rua (com ou sem estátua) e flores
de panegírico, bombardas, fanfarras de formol.

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