É bom estar à espera da Primavera, mas ainda é Inverno e temos um bom pedaço para penar.
Dias cinzentos, aborrecidos.
Tarde na Rua do Carmo.
O cheiro bom a castanhas assadas, quentes e boas.
A ternura de uma criança junto ao vendedor de castanhas: filha?, neta?, importa pouco e esta é a oportunidade de ir buscar o Homem das castanhas cantada pelo carlos do Carmo, versos de Ary dos Santos, música de Paulo de carvalho.
Porque é domingo!
Na Praça da
Figueira, ou no Jardim da Estrela,
num fogareiro aceso é que ele arde.
Ao canto do Outono, à esquina do Inverno,
o homem das castanhas é eterno.
num fogareiro aceso é que ele arde.
Ao canto do Outono, à esquina do Inverno,
o homem das castanhas é eterno.
Não tem eira nem beira, nem guarida,
e apregoa como um desafio.
É um cartucho pardo
a sua vida,
e, se não mata a fome, mata o frio.
e, se não mata a fome, mata o frio.
Um carro que se empurra, um chapéu esburacado,
no peito uma castanha que não arde.
Tem a chuva nos olhos e tem o ar cansado
o homem que apregoa ao fim da tarde.
Ao pé dum candeeiro acaba o dia,
voz rouca com o travo da pobreza.
Apregoa pedaços de alegria,
e à noite vai dormir com a tristeza.
Quem quer quentes e
boas, quentinhas?
A estalarem cinzentas, na brasa.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
Quem compra leva mais calor (amor) para casa.
A estalarem cinzentas, na brasa.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
Quem compra leva mais calor (amor) para casa.
A mágoa que
transporta a miséria ambulante,
passeia na cidade o dia inteiro.
É como se empurrasse o Outono diante;
é como se empurrasse o nevoeiro.
passeia na cidade o dia inteiro.
É como se empurrasse o Outono diante;
é como se empurrasse o nevoeiro.
Quem sabe a desventura do seu fado?
Quem olha para o homem das castanhas?
Nunca ninguém pensou que ali ao lado
ardem no fogareiro dores tamanhas.
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