Não gosto de telefones, tão pouco de telemóveis.
Dos telemóveis reconheço a sua utilidade para emergências, sejam elas quais
forem, mas apenas para isso.
Há alguns meses que sou proprietário de um primitivo modelo
de telemóvel, apenas porque a família entendeu que, começando a ficar gagá,
servirá para chamar o 112, o que quer que seja, alguém que
me dê uma mãozinha em caso de aflição.
Há quem fique aterrorizado com a ideia de ficar sem bateria,
rede ou saldo no telemóvel.
Os ingleses chamam-lhe nomofobia e
já está definida como uma sensação de angústia que surge quando
alguém se sente impossibilitado de se comunicar ou se vê incontactável estando
sem seu telemóvel.
A psicóloga Maria João Moura diz que há pessoas
que não desligam o telemóvel para não estarem sozinhas.
Mário de Carvalho a págs. 13 de Fantasia para
Dois Coronéis e Uma Piscina:
Telefones móveis! Soturma apoquentação! Um país
tagarela tem, de um momento para o outro, dez milhões de íncolas a quere saber
onde é que os outros param, e a transmitir pensamentos à distãncia.
Maria do Rosário Pedreira no blogue Horas Extraordinárias:
A sociedade moderna, excessivamente tecnológica,
torna-nos bichos solitários (no masculino, claro). No Facebook, apanhei há
tempos uma fotografia divertida de um bar, na parede do qual o proprietário
afixara um pedido para que os clientes largassem os telemóveis e falassem, por
favor, uns com os outros. É verdade que muita gente vive completamente escrava
destes e de outros aparelhos, talvez para não se sentir muito sozinha, mas
ainda assim sozinha porque ignorando por causa disso os que ali estão e podiam
fazer-lhe companhia melhor do que as SMS que chegam, irritantemente, a todo o
momento e exigem resposta. Com muitos cafés transformados em agências
bancárias, desapareceram também as conversas e tertúlias que, nos anos 1960 e
1970, segundo me conta o Manel, juntavam à roda de uma mesa (em Lisboa e no
Porto, pelo menos) muita gente que queria falar e discutir assuntos, conhecer
escritores e mostrar poemas, levantar a voz contra o poder instituído e planear
acções culturais e políticas. Hoje, os cafés têm poucas mesas e, ao que parece,
os jovens intelectuais perderam o gosto de se encontrar e trocar impressões, a
menos que seja por e-mail. Talvez os blogues tenham substituído esses
encontros ao vivo, mas, num período tão mau como o que vivemos, não era
descabido que se realizassem de novo tertúlias, até porque delas poderiam sair
ideias boas e criativas que nos alegrassem os dias.
Jorge Listopad:
À mesa de uma esplanada, vejo chegar um casal, jovem
ainda. Sentam-se, encomendam a bebida, e logo, no mesmo tempo, como em
simultâneo, puxam dos respectivos telemóveis e põem-se a conversar.
Cada um para seu lado, animadamente.
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