terça-feira, 14 de janeiro de 2014

TRAGÉDIA


Primeiro, não se acredita. Eusébio morto? 

Como é que pode ser? 

Depois acredita-se e amaldiçoa-se o azar de Eusébio e da família dele por ele ter morrido tão cedo.

Percebe-se que Eusébio já era um imortal há muito tempo e que, nesse sentido heróico, continua tão vivo como antes. Foi uma imortalidade que ele criou, jogada a jogada, de jogo em jogo, ano após ano, de golo em golo.

Mas Eusébio faz falta. Ele era um sábio e um benfeitor, um monumento vivo que falava com as pessoas e vivia como elas, no meio da gente. Era a última grande figura de Lisboa.

Os portugueses nem sempre trataram Eusébio com o respeito e a gratidão que ele não só merecia como tinha conquistado, apesar de ter enfrentado obstáculos formidáveis.

Eusébio era um senhor a jogar e era um senhor na vida. As grandes qualidades dele como futebolista - a inteligência, a imaginação, a solidariedade, a elegância e a audácia - nunca mais se juntaram num só jogador. Mas continuaram sempre na pessoa de Eusébio, ao lado de fraquezas que todos nós temos, provando que ele era humano.

É uma grande tristeza Eusébio não ter vivido mais anos de felicidade e de exemplo. São muitas as pessoas, de todas as idades e de todas as profissões, cujas vidas vão piorar por Eusébio já cá não estar.

A morte de Eusébio é uma tragédia. As tragédias choram-se. Não se celebram. A imortalidade já era dele. Não serve de consolação nenhuma. Era imortal e bem vivo que te queríamos, querido Eusébio.

Obrigados por tudo o que nos deste, a começar por ti.

Miguel Esteves Cardoso no Público.

Sem comentários: