Os jovens são frequentemente gente de fé (se a Natureza fosse para aqui
chamada, diria que «naturalmente»). Embora «os» jovens seja apenas um conceito
e bem saiba que «é preciso, imperioso e urgente» desconfiar dos conceitos. Na
Natureza não há conceitos, há indivíduos, e mesmo esses são seres mutantes,
desiguais de si mesmos. Pensamos com conceitos, mas o pensamento é um exercício
de cepticismo. E algo que, pensando, se aprende é a ser céptico em relação aos
conceitos.
Acreditei em muitas coisas ( e, hélas!, em muitas pessoas) na
juventude. Muitas das coisas e conceitos em que acreditei tinham afinal um
rosto sórdido, e a mair parte das pessoas em cuja fé confiei desertou, desistiu
de «transformar o mundo e mudar a vida» e anda hoje por aí a tratar da
«vidinha».
Tudo se desmoronou? Não. Como nos livros de Astérix, uma pequena aldeia
resiste ainda e sempre ao invasor, a da amizade (que é o mais elevado modo do
amor). E, a família, essa particular espécie de amizade. Sobre tão frágil e
melancólica pedra, ou sobre o que dela resta, «construirei a minha igreja». A
amizade (um conceito, eu sei) é, nestes dias, uma forma de resistência, talvez
a mais radical de todas. Por isso quis que esta primeira crónica do ano fosse
sobre a amizade.
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