Cuidava que nos
meus dossiers de papelada, tinha uma qualquer crítica ao disco do José GomesFerreira.
Não a encontrei.
Porventura nunca
existiu.
No catálogo da
Exposição, Novembro de 2000, o disco é apenas referido, não existindo
reprodução da capa.
O mesmo na Fotobiografia
Para a história
ficam apenas as fugazes referências que José Gomes Ferreira coloca nos Dias
Comuns.
Quando por
qualquer motivo tenho que consultar dossiers, amiúde me perco.
O que seriam
breves minutos de procura, transformam-se em horas.
Assim, acabei
por entrar nos recortes que referem a morte do José Gomes Ferreira.
Um dia virás
Tu-que.não-sei-quem-és,
Com leveza de gás
No silêncio dos pés
O Herberto
Helder tem uma frase em Os Passos
em Volta:
E é na morte de um poeta que se principia a ver que o
mundo é eterno.
O José Gomes
Ferreira costumava dizer:
Quando eu morrer isto vai ser uma desgraça: nunca mais
ninguém me lê!
No fundo, sabia
que seria assim.
E, no entanto:
Senhor Deus que não tenho! O trabalho que me deu a
tornar poeta!
Nos dias que
correm, poucos lêem José Gomes Ferreira.
Muitos, mesmo
muitos, nem sequer, de nome, o conhecem.
Aquando da sua
morte, escreveu Mário Dionísio:
Leiam-no, releiam-no e se, depois disso, não se
sentirem outros, mais ricos, mais indignados e mais generosos, mais felizes por
serem homens, mesmo num mundo de larvas e de monstros, suicidem-se são
extremistas, ou, pelos menos, vão consultar o médico porque qualquer coisa está
gravemente doente.
É comovente a
notícia que Fernando Assis Pacheco escreveu par o JL:
Tenho saudades de José Gomes Ferreira porque era bom e
alegre e tratava os mais novos com delicadeza. Das duas vezes que o entrevistei
por coisas literárias, ficou-me a mesma imagem: de um senhor fluente,
despedindo palavras à velocidade da memória ágil, perguntando sempre se me
estaria a maçar com essa tralha toda, histórias, perfis de amigos
desaparecidos, breves anedotas, e dizendo de si próprio, velho “leitmotiv”,
tenho a idade do século, sou do tamanho do século.
Na sua evocação José
Fernandes Fafe, lembra:
Houve
um tempo em que ele foi o meu amigo mais próximo.
Até que saí de Portugal. Nas férias não deixava de o
procurar , mas, naturalmente, os contactos espaçados deslaçaram um pouco a
nossa intimidade.
Um dia, numa dessas visitas, chamou-me à parte para me
dizer:
- Muito obrigado.
- Obrigado porquê?
- Eu sei que o Fafe pensa de maneira diferente da
minha. E quero agradecer-lhe a delicadeza de fazer como se o ignorasse…
- Ó Zé Gomes!... Ó Zé Gomes! Não nos temos nós por
pessoas civilizadas?
Legenda:
fotografia de Nuno Calvet publicada no disco de José Gomes Ferreira.
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