segunda-feira, 4 de abril de 2016

À VOLTA DO DISCO DO ZÉ GOMES


Cuidava que nos meus dossiers de papelada, tinha uma qualquer crítica ao disco do José GomesFerreira.

Não a encontrei.

Porventura nunca existiu.

No catálogo da Exposição, Novembro de 2000, o disco é apenas referido, não existindo reprodução da capa.

O mesmo na Fotobiografia

Para a história ficam apenas as fugazes referências que José Gomes Ferreira coloca nos Dias Comuns.

Quando por qualquer motivo tenho que consultar dossiers, amiúde me perco.

O que seriam breves minutos de procura, transformam-se em horas.

Assim, acabei por entrar nos recortes que referem a morte do José Gomes Ferreira.

Um dia virás
Tu-que.não-sei-quem-és,
Com leveza de gás
No silêncio dos pés

O Herberto Helder tem uma frase em Os Passos em Volta:

E é na morte de um poeta que se principia a ver que o mundo é eterno.

O José Gomes Ferreira costumava dizer:

Quando eu morrer isto vai ser uma desgraça: nunca mais ninguém me lê!

No fundo, sabia que seria assim.

E, no entanto:

Senhor Deus que não tenho! O trabalho que me deu a tornar poeta!

Nos dias que correm, poucos lêem José Gomes Ferreira.

Muitos, mesmo muitos, nem sequer, de nome, o conhecem.

Aquando da sua morte, escreveu Mário Dionísio:

Leiam-no, releiam-no e se, depois disso, não se sentirem outros, mais ricos, mais indignados e mais generosos, mais felizes por serem homens, mesmo num mundo de larvas e de monstros, suicidem-se são extremistas, ou, pelos menos, vão consultar o médico porque qualquer coisa está gravemente doente.

É comovente a notícia que Fernando Assis Pacheco escreveu par o JL:

Tenho saudades de José Gomes Ferreira porque era bom e alegre e tratava os mais novos com delicadeza. Das duas vezes que o entrevistei por coisas literárias, ficou-me a mesma imagem: de um senhor fluente, despedindo palavras à velocidade da memória ágil, perguntando sempre se me estaria a maçar com essa tralha toda, histórias, perfis de amigos desaparecidos, breves anedotas, e dizendo de si próprio, velho “leitmotiv”, tenho a idade do século, sou do tamanho do século.

Na sua evocação José Fernandes Fafe, lembra:


 Houve um tempo em que ele foi o meu amigo mais próximo.
Até que saí de Portugal. Nas férias não deixava de o procurar , mas, naturalmente, os contactos espaçados deslaçaram um pouco a nossa intimidade.
Um dia, numa dessas visitas, chamou-me à parte para me dizer:
- Muito obrigado.
- Obrigado porquê?
- Eu sei que o Fafe pensa de maneira diferente da minha. E quero agradecer-lhe a delicadeza de fazer como se o ignorasse…
- Ó Zé Gomes!... Ó Zé Gomes! Não nos temos nós por pessoas civilizadas?

Legenda: fotografia de Nuno Calvet publicada no disco de José Gomes Ferreira.

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