No dia 14 de
Março de 1969, José Gomes colocou nos seus Dias Comuns:
Telefonaram-me agora da Philips a convidar-me a gravar
um disco para vender em Portugal e no Brasil. Aceitei em princípio.
A 18 de Março,
volta ao assunto:
A voz dos poetas a dizerem versos nos discos…
Porque não o ranger das penas no papel?...
É talvez a verdadeira voz dos poetas.
A vaidade entristece o mundo…
Entrada de 19 de
Março:
Passei a noite a ler em versos em voz alta… Mas
aconteceu uma tragédia. Como tenho dentadura nova, senti na boca uma mistura
desagradável de palavras com favas sibilantes. E pedras. Vou fazer uma linfa
figura de poeta tatibitates para a eternidade dos meses curtos!
E, sobretudo, não gosto dos meus versos. São do outro.
No dia 2 de
Abril volta a falar do disco:
Ontem à noite comecei a gravar o meu disco. Voltei
para casa fatigadíssimo e passei toda a noite excitado, sem dormir - com uma
insónia de deus tenso.
Odeio a minha voz – solene, cantada, boa para sermões
redondos. Lutei toda a noite com ela. Em vão! Não consegui torna-la num chicote
rude.
No dia 18 de
Abril:
Hoje almoço da gente da Philips com a da Portugália a
propósito do meu Disco.
Almoço neo-capitalista no último andar do Hotel
Eduardo VII com o panorama de Lisboa a comer connosco à mesa.
Almoço de comida complicada que me suscitou uma enorme
sonolência…
- É o neo-capitalismo que conseguiu entrar em mim,
para me atacar de dentro para fora… Para me adormecer… - expliquei ao Nikias
esta tarde no Palladium.
O disco, com a referência 841 402 PY, teve produção de João Martins, reproduz uma fotografia de Nuno Calvet e inclui um encarte com a transcrição dos poemas ditos por José Gomes Ferreira, bem como palavras de Maria Teresa Horta, Carlos de Oliveira e Augusto Abelaira.
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